7 de maio de 2024
Colunistas Ricardo Noblat

A direita dita civilizada torce calada para que Bolsonaro seja cassado

Ela espera voltar ao poder em 2026 cavalgando Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

Possível, claro que é. Milionários não pagaram, cada um, 250 mil dólares para mergulhar até o fundo do mar e observar por algumas horas, e por uma única e pequena escotilha, os destroços do Titanic que afundou há 111 anos? Deu no que deu.

(Não teria sido mais seguro e confortável ver ou rever o Titanic em documentários disponíveis na internet?

Veja este: https://www.youtube.com/watch?v=UCwg2h7i4Ac).

Mas, ao contrário dos bolsonaristas e dos seus parentes próximos, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, dado por eles como o mais promissor candidato da direita à Presidência em 2026, ainda não se vê em tal condição.

Vai rolar muita e muita água antes de ele sentir-se de fato fisgado pela ideia. Haverá, primeiro, que emplacar um aliado na prefeitura da capital nas eleições do próximo ano, e na maioria das prefeituras das cidades mais populosas do interior do Estado.

Haverá que fazer um bom governo – tem capacidade para isso, apoio e o segundo maior orçamento do país, só perdendo para o da União, sob controle de Lula, que se fizer um bom governo e chegar com boa saúde a 2026, certamente se candidatará de novo.

E haverá, por fim, de decidir se não será melhor tentar se reeleger governador ao invés de arriscar-se a enfrentar Lula ou um candidato sustentado por ele, dono da caneta mais poderosa da República. Verdade que, às vezes, a posse da caneta não adianta…

O eventual êxito de Tarcísio em São Paulo poderá se transformar no seu principal adversário. Fixados no próprio umbigo, os paulistas não apreciam governantes que os abandonam para alçar voos mais altos. Pergunte a José Serra e a Geraldo Alckmin.

Não pergunte a Fernando Henrique Cardoso; o caso dele foi diferente. Em 1978, disputou o Senado e ficou em segundo lugar. Virou senador porque Franco Montoro (MDB), o eleito, concorreu e venceu a eleição para governador de São Paulo em 1982.

Em 1985, Fernando Henrique candidatou-se a prefeito de São Paulo contra Jânio Quadros, que em 1961 se elegeu presidente, renunciando ao cargo seis meses depois. Fernando Henrique foi derrotado por Jânio, um carismático maluco de porre.

Nas eleições de 1986, Fernando Henrique se elegeu senador. Mas em 1994, seus amigos discutiam o que fazer para que ele fosse eleito pelo menos deputado, já que não tinha votos para se eleger outra vez senador, tampouco governador de São Paulo.

Eis que ele foi eleito presidente. Estava no lugar certo e na hora certa. Havia sido nomeado ministro da Fazenda pelo presidente Itamar Franco, sucessor de Collor, deposto por corrupção; e era visto como o pai do Plano Real, que pôs a economia em ordem.

A Presidência é destino, como disse Tancredo Neves (MDB), que se elegeu presidente, mas morreu sem assumir o cargo. Tarcísio de Freitas já ouviu falar disso e não discorda. A questão é que a política é mais sedutora que o amor, engana mais que ele.

A direita que se diz civilizada saboreia em silêncio a cassação iminente dos direitos políticos de Bolsonaro. Ela continuará como direita, mas espera livrar-se da pecha de ser em grande parte bolsonarista. Aposta em Tarcísio para em 2026 voltar ao poder.

Fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

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