15 de maio de 2024
Colunistas

A mais exuberante flor do recesso do ano da graça de 2022

Em breve, ela murchará.

É inevitável: com o Congresso e a Justiça de férias, só as flores do recesso são capazes de preencher o vazio de fatos. Foi o deputado Thales Ramalho (PE), Secretário-Geral do MDB à época da ditadura militar, que cunhou a expressão “flores do recesso”.

São palpites, impressões, desejos postos a circular, informações plantadas por interessados, geralmente tratados como fatos, enquanto deputados, senadores e juízes desfrutam do justo descanso. As flores murcham depois do retorno deles ao trabalho.

A flor mais exuberante do recesso que vivemos é a da recondução de Augusto Aras ao posto de Procurador-Geral da República. É a facção baiana do PT que plantou e que rega essa flor. E o próprio Aras, o maior interessado, que promete fazer o L como fez o B.

Sujeito letrado, o Aras. Dado a conhecer literatura. Em fevereiro último, quando o país ainda se recuperava do choque com a tentativa de golpe de 8 de janeiro, Aras deu um show de cinismo na sessão que marcou a volta das férias do Poder Judiciário.

Para espanto e irritação dos que o ouviram, diante dos ministros do Supremo Tribunal Federal e do presidente Lula recém-empossado, ele usou seu discurso para refutar as críticas de que sua gestão foi inerte na repressão de atos antidemocráticos.

Reconheceu que o Ministério Público atuou de forma “discreta, evitando que extremistas se manifestassem contra o regime democrático”. (Não atuou, simplesmente omitiu-se. Os extremistas manifestaram-se à vontade). E teve a cara de pauta de dizer:

“Se for necessário reprimir os atentados, nós o faremos”.

(Se for necessário? Não seria?). Mas o momento de maior constrangimento para os togados foi quando Aras citou um poeta para declamar em seguida com a voz pausada:

“Democracia, eu te amo, eu te amo, eu te amo”.

A declaração de amor veio tarde. As chances de Lula fazer o A são iguais a zero. Aras, se quiser, poderá juntar-se à tropa que veste pijama nas vizinhanças do Forte de Copacabana, no Rio, joga dominó, fala com saudade dos tempos idos e está sempre alerta.

fonte: Blog do Noblat

Ricardo Noblat

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Jornalista, atualmente colunista de O Globo e do Estadão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *