3 de novembro de 2025
Percival Puggina

Aos mestres, com gratidão e reverência

Neste último dia 15 de outubro, dia dos professores, me veio a ideia de que, aos 80 anos, sou bem mais velho do que haviam sido todos os meus “velhos” mestres.

Cá entre nós, se considerarmos apenas a idade e o consequente acúmulo de perdas, não é uma boa contar 80 anos. Somar setenta, sessenta, cinquenta, era melhor. Quantos amores ficaram pelo caminho! No entanto, antes que o Senhor da vida me chame de ingrato por quanta bondade me concedeu, quero esclarecer meu ponto: se ter 80 anos não é exatamente um canteiro de saudades num jardim de delícias, ter vivido esse tempo todo é uma experiência extraordinária, uma esplêndida graça.

É um aspecto dessa dádiva que tenho em mente, por exemplo, quando se acendiam, anteontem, as luzes para a noite de 15 de outubro de 2025, Dia do Professor. Graças aos meus 80 anos, queridos leitores, os muitos professores que tive durante os anos 50 e 60 do século passado, não haviam sequer ouvido falar em Paulo Freire! Afortunado privilégio! De fato, como a badalada experiência freiriana de alfabetização “express” de Angicos é de 1963 e a “Pedagogia do oprimido” foi publicada em 1968, quando Freire já estava no Chile, os poucos que souberam algo dele eram suficientemente inteligentes como para não lhe dar atenção.

O resultado, meus amigos, é que absolutamente todos os meus muitos professores ao longo da vida eram exatamente isso: professores! Dedicados ao mais intenso uso possível de seu tempo com o toco de giz, conscientes do valor do conhecimento transmitido, ocupavam-se com ensinar! Cobravam dos alunos desempenho compatível com seu próprio empenho. Obtinham disciplina porque impunham respeito. Eram pessoas respeitáveis. Já então, nos anos 60, a política nacional fervia nos corredores, nos grêmios estudantis, nos centros acadêmicos, mas não entrava na sala de aula. Não era assunto dos professores.

Cada um no seu quinhão, eram missionários do conhecimento, da ciência, da ética e da estética. Não vendiam gato por lebre, não desrespeitavam a cultura das famílias, a política tinha seu lugar de estar e a sala de aula não era um desses lugares, não organizavam “coletivos” nem colecionavam “narrativas”. Viam seus alunos como operadores do próprio futuro. Por vezes, penso que anteviam a revolução do trabalho, do talento, do mérito. E o Brasil que nascia das salas de aula era um Brasil melhor! Eu o resumo na pessoa de Elvira Arla Pereira, minha primeira professora no Grupo Escolar Professor Chaves, em Santana do Livramento. Ela tanto amou nossa turma que a tomou como sua nos quatro anos do ensino fundamental, nos distantes anos 50 do século passado.

Minha imensa gratidão aos inesquecíveis mestres daqueles muitos anos e aos que ainda hoje abrem suas salas de aula com os mesmos valores e preservando a dignidade de sua missão.

Percival Puggina

Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país.  Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.

Arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores, colunista de dezenas de jornais e sites no país.  Membro da Academia Rio-Grandense de Letras. Escreve, semanalmente, artigos para vários jornais do Rio Grande do Sul, entre eles Zero Hora, além de escrever o seu próprio blog e em outros websites de expressão nacional, a exemplo do Mídia Sem Máscara, Diário do Poder, Tribuna da Internet. Sua coluna é reproduzida por mais de uma centena de jornais.

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