14 de outubro de 2024
Colunistas Paulo Antonini

Baixo Bebê

Imagem: Google Imagens – Sisters Mommies

É do conhecimento de todos o famoso espaço na praia do Leblon, denominado de “Baixo Bebê”. O que talvez, seja do conhecimento apenas dos frequentadores da área, é que coexiste, ombro a ombro, ali, naquela mesma faixa de areia, o “Baixo Vovô”, onde, amiúde, se reúnem amigos da chamada, terceira idade.

Todos os dias, liturgicamente, se encontram nesse espaço para jogarem vôlei e principalmente se acompanharem. Formam uma verdadeira família, cujo, o único dever que se impõe, para ser um dos seus membros, é a irreverência e o total desprezo as formalidades sociais.

Quem aí, passa, não consegue ser indiferente a tanta alegria e trapalhadas que se formam em torno das discussões decorrentes das disputas dos jogos. Fica-se em dúvida, se não é ali, o verdadeiro Baixo Bebê.

Costumo dizer que se alguém tem algum problema que vá vê-los como assistente ou como familiar para resolver suas questões, porque é impossível, depois dessa experiência, sair a mesma pessoa.

Eles, os “Vovôs” , criaram uma camiseta, que reza o seguinte: Baixo Vovô, aqui todo mundo ensina e ninguém aprende.Creio, que nessa frase, tudo está dito para se entender a alma desses sábios.

Ao fim do dia, novamente, num movimento que parece orquestrado, um a um, sempre a partir das seis horas, vão chegando na esquina onde fica a padaria Rio Lisboa para uma segunda reunião, desta vez, com um pouco mais de roupa, continuam a liturgia do saber e do bom viver.

Muitos deles, são testemunhas da minha chegada e do meu crescimento nesse planeta, alguns, até com um carinho muito especial, foram meus iniciadores em muitos prazeres da vida, como os gêmeos, Russo e Zeca, que me levavam ao Maracanã, numa época que eu mal sabia andar pelas ruas, outrora, desertas do Leblon.

O tio Neném, famoso árbitro de futebol, nos anos sessenta, que me chamava para jogar voleibol, e, hoje, o vejo sentado em sua cadeira de rodas, já, no alto dos seus 93 anos.

Como não lembrar do Mário, meu querido amigo, que esse ano, completará, 100 anos de idade, e ainda é um jovem, com uma cabeça lúcida e atual que com toda sua humildade me diz que eu sou sua referência de vida.

Enfim, são minhas testemunhas de vida, que sem elas, eu não teria credibilidade para comprovar nada que eu possa dizer sobre o meu passado.

Desculpem, se estou dando tanta volta para dizer a vocês, que, a partir do meio desse ano, apesar de estar ainda em plena forma física e mental, estarei assumindo minha cadeira nessa confraria tão especial, onde a toga, não se veste, se despe. Onde as regras, são para serem religiosamente descumpridas. Onde as despedidas dessa vida, são regadas por álcool e alegria, nunca, com lágrimas.

Quero dizer a vocês, que a partir dessa data, estarei recebendo minha neta ou neto, que virá se juntar ao Pedro, e, que eu, não saberei em que “Baixo” me divertirei com minhas crianças.

Numa época em que as pessoas não têm data de nascimento, onde todas são nonatas e fazem questão de esconder suas idades, quero declarar que terei a honra de vestir essa camiseta dos Vovôs.

Só, que espero, que dessa vez, todos ensinem e alguém aprenda, nem que seja para desaprender tudo, na hora certa.

Paulo Antonini

Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.

Paisagista bailarino e amante da natureza. Carioca da gema, botafoguense antes do Big Bang.

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