19 de abril de 2024
Rodrigo Constantino

Essa eleição americana foi a desgraça do “jornalismo” político

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O escândalo dos emails secretos e as suspeitas de corrupção da Clinton Foundation continuam a todo vapor, com as investigações do FBI e os vazamentos do Wikileaks, mas a imprensa só quer mesmo saber das falas grosseiras de Donald Trump sobre mulheres. Nunca antes na história dos Estados Unidos o viés da mídia “progressista” ficou tão escancarado. Uma potencial criminosa golpista tem chance de ser eleita, e todos estão obcecados com o narcisismo do magnata bufão.
Se o leitor “isentão” chegou aqui por milagre e leu o primeiro parágrafo, já vai logo reagir: “Mais paranoia desse conservador reacionário de direita”. É sinal de que o trabalho da imprensa foi bem feito: as pessoas reagem por instintos e emoções aos rótulos incutidos pelos “jornalistas”, enquanto desprezam os fatos. Vamos atacar o mensageiro em vez da mensagem, como fez Obama no caso do FBI (sendo que, antes, o presidente era só elogios a James Comey, por ele ser apolítico).
Mas se a coisa já está nesse patamar feio e o leitor não quer saber qual a minha opinião, ou pior, quais são os fatos, então que tal ler esse texto de Ken Silverstein no Observer, ele que é de esquerda? Para ele, os jornalistas se transformaram em capachos de Hillary, em funcionários seus submetidos aos desejos do Partido Democrata. Silverstein se diz de esquerda e não pretende votar nessa eleição, mas isso não o impede de admitir o que está acontecendo.
“Temos dois candidatos inacreditavelmente de merda, nenhum deles capaz de liderar o país”, desabafa. Se Trump mal consegue formular duas frases e faz declarações infelizes e preconceituosas sobre latinos, Hillary, por sua vez, está metida até o pescoço num caso que faz o Watergate de Nixon parecer brincadeira de escoteiros. Mentiu sobre tudo desde o começo, e agora as investigações tiveram de ser reabertas, tamanha a evidência de desvios de conduta.
John Kass, colunista do Chicago Tribune, chegou a escrever que o Partido Democrata deveria exigir a substituição da candidata. Mas ninguém espera isso. O clã dos Clinton e seus poderosos aliados não se importam com nada além da vitória. Para o inferno com a ética, com as leis, com a própria democracia! O que vale é preservar o poder, e tudo aquilo que deriva dele, como os contratos bilionários com o governo e as doações milionárias à fundação como forma de pagamento pelo “serviço” prestado. Leandro Ruschel fez uma boa analogia para o leitor entender melhor o caso:
Acho que muita gente não percebeu a gravidade da revelação de ontem do Wikileaks. O Procurador Geral Assistente dos EUA, Peter Kadzik, passava informações do andamento dos processos de Hillary Clinton para John Podesta, o chefe da campanha de Hillary!
Mais ou menos como se um Vice Procurador de Janot passasse informações ao Rui Falcão sobre as investigações da Lava Jato durante a campanha de Dilma!
Pior, esse mesmo sujeito está conduzindo as investigações sobre a Fundação Clinton. Nos emails, Podesta diz que Kadzik é um dos seus melhores amigos…
Todas essas revelações estão acontecendo porque agentes do FBI e do DOJ estão em rebelião contra os seus chefes corruptos. Esse caso deixa Watergate parecendo coisa de amadores. Mesmo que a crooked Hillary ganhe, a sua presidência será fortemente questionada desde o primeiro dia.
Mas há um relativo silêncio da mídia. Como os emails vazados pelo Wikileaks também comprovam, a imprensa tem postura negligente em geral pois é parte do esquema! Está mancomunada com os “globalistas” (não confundir com a globalização, como fez um editorial do GLOBO recentemente), com George Soros e companhia. É justamente como uma reação a essa imprensa carcomida e essa política podre de Washington que surgiu o fenômeno Trump. Diz Silverstein:
Se você não entender isso, você não pode entender Trump. Que um imprudente, apodrecido e perigoso bilionário seja a última esperança eleitoral para dezenas de milhões de norte-americanos pode ser um triste reflexo do colapso total do nosso sistema político, mas isso não faz o apelo de Trump para uma parte significativa do eleitorado ilegítima nem torna todos os seus defensores parvos irracionais e racistas, como se conclui a partir de notícias e especialistas de esquerda.
A mídia mainstream simplesmente não está sendo capaz de compreender o mundo. Foi assim no caso do Brexit no Reino Unido, da rejeição ao “acordo de paz” com os terroristas das Farc na Colômbia, e com Trump, virtualmente empatado nas pesquisas mais recentes e com chances reais de ser o próximo presidente americano, algo completamente descartado no começo da corrida presidencial.
Os jornalistas não entendem mais nada do mundo, porque vivem em suas bolhas “progressistas”, perderam o elo com a realidade, e enxergam o povo, as pessoas de carne e osso, por meio de sua lente ideológica preconceituosa, uma caricatura no lugar da verdade. São todos uns alienados, ignorantes, frequentadores da missa ou do culto aos domingos, que compram no Wal Mart em vez de no Whole Foods, muitos ainda fumam (cruzes!), não andam só de bike ou com carros elétricos, e céus!, defendem o direito de ter armas!
Pela ótica tosca dessa elite jornalística, são uma cambada de idiotas, racistas, crentes imbecilizados que odeiam a globalização e adoram Deus. Com essa narrativa pré-fabricada, como avaliar os fatos do mundo real? Como entender o que se passa, o que está em jogo, por que Trump desafia o status quo, os poderosos de Washington e da mídia? Silverstein cita os motivos dados por Camille Paglia, a feminista que rejeita Hillary, como explicação para o sucesso de Trump:
Mas você não tem que ser louco para votar em Trump. A melhor razão que eu vi foi recentemente oferecida por Camille Paglia, que disse: “As pessoas querem mudança e estão cansadas do establishment … Se Trump ganhar será um momento incrível de mudança, porque iria destruir a estrutura de poder do partido republicano, a estrutura de poder do partido Democrata e destruir o poder dos meios de comunicação”.
Fazendo uma analogia com a eleição municipal no Rio, foi mais ou menos como o baile que o evangélico Marcelo Crivella, da Igreja Universal do bispo Macedo, deu nos “progressistas” do PSOL, apesar de todo o apoio da Globo e da VEJA. Os artistas, “intelectuais” e “estudantes” da elite burguesa estão até agora tentando compreender como foi que um pastor venceu em vez de um sujeito tão “descolado”, herói de filme e socialista (preocupado com os mais pobres), como Marcelo Freixo. Só pode ser culpa dessa classe média tacanha que não entendeu nada do mundo…
Os “tolerantes” da esquerda, desprovidos de qualquer preconceito, repletos de “amor” em seus corações, não suportam o povo e esses líderes que ele resolve endossar. Um jornalista americano chegou a declarar publicamente que gostaria de ver Trump morto. Alguém pode imaginar a reação da imprensa e desses “progressistas” se fosse o contrário, um republicano desejando a morte de Hillary?
É essa hipocrisia, esse duplo padrão, esse salvo-conduto aos poderosos que a população em geral não aguenta mais. E isso faz com que até um Trump tenha chances reais. Pois a alternativa é ainda pior, é alguém ligada a esse establishment podre, é a maior representante dessa elite globalista corrupta. E se essa eleição vai levar ao poder uma pessoa incapaz de liderar os Estados Unidos e o mundo ocidental, ela ao menos serviu para desmascarar de vez a mídia por trás desse esquema.
Que venham as alternativas nos meios de comunicação, pois esses “formadores de opinião” tradicionais são coisa do passado, de um passado vergonhoso, ideologizado, cúmplice dos que abusam do poder para se dar bem à custa do povo.

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