Revigorado pelas manifestações em seu favor e deixando o digladio com os contras para o seu ministro da Educação, Abraham Weintraub, o presidente Jair Bolsonaro se animou. Na semana passada, reuniu-se com os poderes Legislativo e Judiciário, fez visita supresa ao Congresso, elogiou parlamentares. Pregou a cartilha das privatizações, e, no melhor estilo popularesco, foi para a rua, reservando parte da agenda em Goiás para um almoço “improvisado” com caminhoneiros.
Pessoalmente, pode ter marcado gols, com chances até de barrar a queda contínua de sua aprovação no pós-posse. Teria sido ainda melhor para ele, para o seu governo e para o país, se a empolgação não o fizesse falar demais.
Com a língua solta, abriu flancos perigosos como o da exaltação ao presidente do Supremo, Dias Toffoli, que Bolsonaro passou, sem qualquer pudor, a tratar como um aliado – “é muito bom nós termos aqui a Justiça ao nosso lado”. Por ignorância ou oportunismo, o capitão desprezou o fundamental: à Justiça não é dada a opção de ter lado. Ainda que Toffoli, o garoto de ouro do ex Lula e seu novo melhor amigo, e o próprio presidente façam pouco caso disso.
Abandonando os regulares xingamentos à imprensa, Bolsonaro atendeu jornalistas e até falou com exclusividade à revista Veja. Fez pouco do seu partido, o PSL, que para ser formado rapidamente “pegou qualquer um”. Uma desfeita aos deputados “inexperientes”, que só chegaram lá pelo apoio do candidato-presidente. Vinculou o fim da reeleição a uma reforma política que possa diminuir o número de parlamentares de 500 para 400, garantiu que vai vender os Correios. Simpático e por vezes brincalhão, até puxou as orelhas de seu guru por ele ter indicado Ricardo Vélez para a Educação sem conhecer o afilhado. “Pô, Olavo, você namorou pela internet?”
Sobre o filho Flávio, investigado pelo Ministério Público do Rio por suspeita de enriquecimento ilícito, tergiversou. Escolheu se portar como um pai preocupado e perseguido. Não negou a amizade com Fabrício Queiroz, mas, ao dizer que desconhecia os rolos do ex-assessor, usou o mesmo expediente do ex Lula, prorrogando a suada república do “eu não sabia”. Algo pouco digno para alguém que rechaça antecessores e as práticas da “velha política”.
Na sexta-feira, voltou a soltar impropriamente o verbo.
No almoço com os caminhoneiros, vangloriou-se de ter beneficiado a categoria no decreto pró-armas, estimulando-os a mandar bala. “Se tiver arma de fogo é para usar”, disse. Depois, assegurou que daqui a pouco as armas, hoje caras, vão cair de preço. A reivindicação era por mais asfalto e mais policiamento. Mas, sem oferecer qualquer alternativa diante das reclamações pela falta de infraestrutura que destrói pneus, motores, boleias, e pelos roubos de carga, Bolsonaro vaticinou: “quanto mais arma, mais segurança”.
No mesmo dia, durante um evento da Assembleia de Deus em Goiânia, defendeu a assunção de um ministro evangélico ao Supremo. Ciente do espanto que a afirmativa provocaria, o presidente lançou o verme e saiu-se com a vacina: “não me venha a imprensa dizer que quero misturar a Justiça com religião”.
Pode até vir a não fazê-lo, embora pareça querer.
Reincidente no erro, insistiu em comprometer a indicação que fará no ano que vem para o STF. Já meteu os pés pelas mãos ao confessar que barganhara a vaga futura para convencer o ex-juiz Sérgio Moro, que não é evangélico, a integrar o governo. Agora, acenou para os seus amigos de fé. Irresponsabilidade dupla.
Animado com as manifestações em seu favor, Bolsonaro falou muito e mais do que devia sobre tudo. Mas ficou mudo diante das estultices do seu ministro da Educação. Além do desrespeito a professores e alunos, que ele considera frágeis e manipuláveis, a cena patética do vídeo “Singing in the rain”, no qual Weintraub aparece rodando um guarda-chuva com a bandeira nacional ao fundo, tem eloquência própria. Mostrou-se pior ou no mínimo igual a Vélez.
Sobre isso, Bolsonaro nada disse, ficou calado. Um silêncio embalado por outra crença, a ideológica. A mesma chaga que, vinda do outro polo, ele jurava combater. Quem fala demais…
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Jornalista, mineira de Belo Horizonte, ex-Rádio Itatiaia, Rádio Inconfidência, sucursais de O Globo e O Estado de S. Paulo em Brasília, Agência Estado em São Paulo. Foi assessora de Imprensa do governador Mario Covas durante toda a sua gestão, de 1995 a 2001. Assina há mais de 10 anos coluna política semanal no Blog do Noblat.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.