2 de maio de 2024
Colunistas Ligia Cruz

Se fosse aqui ou em Paris, seria o mesmo

A geografia não diminui a dor de ninguém. Sofrer com ou sem glamour, que diferença faz?

Quem migra para fugir de alguma coisa mal resolvida vai se deparar com as mesmas questões, a mesma ausência. A diferença é que o corpo vai, mas o coração fica. E nele incrustadas todas as marcas do tempo.

Talvez ainda restasse aquele tantinho no fundo do copo, para sorver devagarinho para não acabar. Mas uma hora acaba. Aquele sabor nunca mais virá à boca outra vez.

O lamento teria, quem sabe, um sotaque diferente e os cheiros se misturassem e se materializassem nas lembranças, mas a paisagem seria mera distração.

O que sobra é o conteúdo emocional da experiência vivida, que apenas uma única pessoa no mundo é capaz de sentir. Ninguém pode se colocar no lugar do outro quando se trata de sentimentos. Não cometa o erro de imaginar.

Fazer de mais ou de menos, dá no mesmo. Não muda o desfecho, que é o da partida. Quem já se foi tantas vezes da vida dos outros sabe disso. De alguma forma dói porque sempre um pedaço fica.

O peso que as coisas têm se misturam com todos os apelos que construímos para dar sustentação às ilusões e superação.

É preciso dar o tempo necessário para a dor passar, as marcas suavizarem e se moldarem aos poros como se fizessem parte deles. Os registros do que se foi, as palavras ditas ficarão irremediavelmente para sempre.

Mesmo que as estações engulam as filigranas dos sentimentos intrincados do ser, não é possível fazer mais nada. Porque nada pode ser tudo em alguma medida para quem vê o lado bom das coisas.

Apenas vá, não importa para onde. O que se passou é só seu. Ninguém é capaz de dividir o peso das suas emoções e escolhas com você. Vá e não olhe para trás.

Ligia Maria Cruz

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Jornalista, editora e assessora de imprensa. Especializada em transporte, logística e administração de crises na comunicação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *