Perguntei ao espelho retrovisor: espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?
Ele não para de falar nomes.
Basta entrar no carro e começa a narração da lista sem fim…
Fechei o vidro, saí da linha de visão, mas têm outros espelhos no carro… “olha aqui, olha ali, olha lá…”
Aumentei o som. Ufa!
Pra não acabar a amizade, estamos todos cantando juntos… (Anota aí, se quebrar, sete anos se azar para cada espelho quebrado. Esquece!).
Cheguei em casa. Perguntei para o espelho: “espelho, espelho meu, existe nesse mundo alguém mais bela do que eu? ”
Ele respondeu: – Sim. Claro que sim.
Mas… mais divertida do que você, tá pra existir!
Ah, hoje você demorou, bradou o espelho.
Acenda a luz interior para não aparecer sombra na sua imagem, continuou.
É para você se ver por inteiro. É necessário.
Porque só quem sabe de si, se enxerga. Só quem tem luz própria tem imagem refletida no espelho. Quem não tem luz, precisa se projetar usando a imagem de alguém… alguém que é mais porque tem luz.
Na verdade, pessoas assim nem forma têm. Sugam a luz alheia, o sangue alheio no esforço de uns e outros. Precisam sempre se abastecer do que não tem, do que não são pela eternidade da inexistência que lhes coube como lote.
Espelho, espelho meu…
Entre erros e acertos, entre o ontem, o agora e o depois, entre os que enganam e entre os meus próprios enganos, que sempre apareça em você a minha imagem para que eu nunca me perca do meu próprio eu.
Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.