10 de dezembro de 2024
Colunistas Junia Turra

Declaração de Amor


Hoje é um desses dias que não deveriam existir. Dia para ser apagado, todas as linhas.
Na ordem natural das coisas o que é mais velho segue na frente. E o tempo passa, perdemos os avós, os pais, os artistas que marcam época, os amigos. Mas deveria ser proibido perder filhos.
Hoje o telefone toca: “como é o nome da filha da sua amiga …”  Li a informação para o velório hoje em São Paulo.
Na hora eu pensei: hackearam a conta dela. A que ponto chegamos!
Liguei para uma outra amiga que se assustou. Absurdo! Criança linda. Tudo certo… Mas ela achou a informação que não queríamos achar.Tentei ligar… Tentei de todas as formas falar com a minha querida amiga de tantas horas, de tantos anos, de tantas batalhas ,sempre juntas,  na carreira, no dia a dia…

Nada! Eu do outro lado do mundo. Sentei do lado de fora de casa pra ver o sol se por. Aquele aperto no peito e amargo na boca. O céu ficou cinza escuro, como se um temporal se formasse, mas o sol intenso no fundo. Criei coragem para ler a mensagem que todos falavam ser real. E escrevi ali.

E voltei para olhar o céu. O telefone toca. E ela chorava do outro lado. E eu chorava do lado de cá.

É uma dor que não tem tamanho. Um mal súbito. Sim, foi um mal súbito que levou a pequena tão amorosa e tão amada. Um algo que não se explica. Foi medicada mas não resistiu.

Como? Essa minha amiga é incansável para ajudar todo mundo, adotou um casal de irmãos.

Pais maravilhosos e filhos criados com tanto amor. Por quê? Por que isso?

Como uma avalanche, um terremoto, um tsunami? Tudo arrasado. Por quê?

Porque o peso da vida vem com os anos, com a vivência.

Alguns povos comemoravam a partida de crianças e jovens como dádiva: anjos que passam rapidamente  para nos trazer luz e alegria.
Foi isso mesmo que a linda Lorena fez aqui. Ela é um anjo. Sabíamos. Sempre soubemos. Suave, delicada, era um bálsamo. E deixou o irmão, a mãe e o pai que tanto amava e por quem era tão amada para dar continuidade ao que ela ensinou: alegria, carinho, amor, equilíbrio, bondade.
Todos nós estamos aqui de passagem. Para a eternidade da vida, apenas os verdadeiros laços de amor. Para sobreviver e  seguir adiante, ao invés de pensar em perda, temos que nos lembrar do presente que recebemos. Vencer a nossa própria dor mergulhando em nós mesmos.
É a “metamorfose na profundidade do que somos”. Não é para todos. Gente rasa, superficial não alcança… É para quem ama verdadeiramente, profundamente, sem egoísmos vãos. É para quem os anéis pouco importam, mas os dedos que tocam por mais um toque valeriam todos os anéis e o dinheiro e o poder tão cobiçados nesse mundo.

Como as coisas perdem a importância, como as preocupações se tornam inúteis quando se tem a certeza da profundidade do amor. O amor transforma.

Só quem já perdeu um grande amor sabe do que falo. É o anjo nosso de cada dia que nos aperta o peito quando bate asas e voa.
É para nos desencapar do ter, do poder, do possuir.
A alma é leve. Mas alma que voa é só a alma que vai ao encontro do amor.
Lorena, Mônica Salomão, Rogério e Vitor.
Já disse o poeta: tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
Lembrem-se: vocês precisam estar juntos para seguir essa viagem até o destino final.
Santo Agostinho dizia que devíamos cantar e nos alegrar por aquele que vai. Está livre das dores e da miséria desse mundo.
Lorena, anjo nosso, voa menina, voa. Você é puro amor!
Junia Turra

Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

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Jornalista internacional, diretora de TV, atualmente atuando no exterior.

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