É a vacinação que está fazendo aparecer a luz. Só ela tem a capacidade de parar a desgraça
Ninguém diria nada de parecido há pouco mais de um ano, mas este foi um ano em que nada se pareceu com nada – é natural, assim, constatar que a evolução da economia e do bem-estar da população brasileira passou a depender diretamente não daquelas coisas que os economistas vivem dizendo que são importantes, e sim de uma fórmula química. Quem poderia imaginar? Mas aí está: ao chegar-se à metade de 2021, é o sucesso maior ou menor da vacinação que vai dizer, sim ou não, se haverá crescimento daqui para a frente – e em que ritmo. É isso que vai decidir se as pessoas terão de volta os empregos que perderam ou que não conseguiram encontrar nos últimos 12 meses, e se haverá outra vez investimento, oportunidades, novos negócios e tudo aquilo que serve de motor para o sistema de produção das sociedades.
O governo aposta na vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca contra a covid-19
Campanha de vacinação nacional contra a covid-19 começou no dia 18 de janeiro – Foto: Amanda Perobelli/Reuters
Na passagem de 2019 para 2020 não havia ninguém pensando nisso, nem na área econômica ou em qualquer outra área. Vacina? Vacina para quê? Não havia a doença. Não havia a proibição para a indústria funcionar, o comércio abrir e os serviços serem prestados. Não havia 3,5 milhões de mortos através do mundo, nem a ideia de que fosse preciso, dali para diante, arrumar vacinas – e muitas vezes em dose dupla – para 8 bilhões de consumidores. Os problemas da economia eram outros.
O Brasil, por exemplo, ia mal, com investimento em queda, desestímulo maciço à atividade produtiva, fuga de multinacionais cujos acionistas se cansaram de perder dinheiro aqui, desencanto com uma economia estatizada, burocracia demente, impostos suicidas, baixa estabilidade jurídica, uma máquina pública hostil ao lucro. A lista vai adiante; levaria horas para chegar ao fim. Um ano depois, tudo isso continua basicamente do jeito que estava. Mas, agora, por conta da destruição econômica trazida pelo conjunto de decisões envolvendo a covid, qualquer luz no fim do túnel virou um sol de meio-dia. Se parar de piorar, apenas isso, vai ser uma vitória gigante – e é a vacinação, mais que qualquer outra coisa, que realmente está fazendo aparecer a luz. Só ela, na prática, tem a capacidade de parar a desgraça.
Quanto mais pessoas forem vacinadas, e quanto mais rápida for a conclusão desse processo todo, mais rapidamente o Brasil sairá do deserto econômico em que foi lançado. O que isso tem a ver com a política econômica “A” ou com a política econômica “B”, que são contrárias entre si e, portanto, deveriam levar a resultados opostos? Nada. O fato decisivo para a economia, hoje, passou a ser uma questão de farmácia. Concluída a vacinação, é certo que os países que têm espaço para crescer vão realmente crescer – não se sabe quanto, mas não vai ser pouco, e nem pode ser evitado. É o caso do Brasil.
Uma das principais vantagens do ex-presidente Lula na vida política é a falta de memória do público e a mansidão dos adversários a quem ofende. Durante anos a fio Lula acusou Fernando Henrique, aos gritos e pelo mundo inteiro, de ter lhe deixado uma “herança maldita” no governo – insulto agravado pelo fato de ser uma mentira em estado puro. Até pouco tempo atrás tratava FHC como uma das maiores, ou a maior, desgraça que o Brasil já teve; era o grande satanás da “direita”, das “elites”, etc., etc. Agora, candidato para governar o País pela terceira vez, Lula vira amigo de infância de quem acusava, cinco minutos atrás, de ser o retrato acabado do mal – e o inimigo engole tudo sem dar um pio.
Lula nunca retirou o que disse sobre a herança maldita. Nunca, aliás, disse uma palavra positiva sobre Fernando Henrique, ou sobre nada do que ele fez. Que raios, então, estão fazendo juntos?
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
Usamos cookies em nosso site para oferecer a você a experiência mais relevante, lembrando suas preferências e visitas repetidas. Ao clicar em “Aceitar tudo”, você concorda com o uso de TODOS os cookies. No entanto, você pode visitar "Configurações de cookies" para fornecer um consentimento controlado.
This website uses cookies to improve your experience while you navigate through the website. Out of these, the cookies that are categorized as necessary are stored on your browser as they are essential for the working of basic functionalities of the website. We also use third-party cookies that help us analyze and understand how you use this website. These cookies will be stored in your browser only with your consent. You also have the option to opt-out of these cookies. But opting out of some of these cookies may affect your browsing experience.
Necessary cookies are absolutely essential for the website to function properly. These cookies ensure basic functionalities and security features of the website, anonymously.
Cookie
Duração
Descrição
cookielawinfo-checkbox-analytics
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics".
cookielawinfo-checkbox-functional
11 months
The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional".
cookielawinfo-checkbox-necessary
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary".
cookielawinfo-checkbox-others
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other.
cookielawinfo-checkbox-performance
11 months
This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance".
viewed_cookie_policy
11 months
The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data.
Functional cookies help to perform certain functionalities like sharing the content of the website on social media platforms, collect feedbacks, and other third-party features.
Performance cookies are used to understand and analyze the key performance indexes of the website which helps in delivering a better user experience for the visitors.
Analytical cookies are used to understand how visitors interact with the website. These cookies help provide information on metrics the number of visitors, bounce rate, traffic source, etc.
Advertisement cookies are used to provide visitors with relevant ads and marketing campaigns. These cookies track visitors across websites and collect information to provide customized ads.