No futuro, vai se saber com mais exatidão as responsabilidades do terceiro ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro – ou, o que é mais provável, nunca se saberá nada ao certo
Em algum dia, no futuro, vai se saber com mais exatidão os méritos, os deméritos e as responsabilidades do terceiro ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro – ou, o que é mais provável, nunca se saberá nada ao certo, pois o episódio todo e o seu personagem principal já estavam confortavelmente esquecidos 24 horas depois da demissão. Nesses casos, como se sabe, o interesse para se verificar os fatos desaparece e em geral não volta mais.
Sempre é possível afirmar, porém, algumas coisas básicas sobre essa tempestuosa passagem do general Eduardo Pazuello, homem de intendência e de logística, pelo ainda mais tempestuoso Ministério da Saúde. A mais curiosa é a seguinte: o ex-ministro não deu certo, tanto que foi demitido, mas as acusações mais apaixonadas contra ele não ficam de pé por cinco minutos.
Eduardo Pazuello, ministro da Saúde Foto: Dida Sampaio/ Estadão
O principal delito do general como ministro, segundo a narrativa geral apresentada ao público, é que ele “não conteve o avanço da pandemia” no Brasil.
Como assim, “não conteve?” E quem é o general Pazuello para conter uma calamidade deste tamanho? Quem, em qualquer lugar do mundo, conseguiu conter? Até hoje ninguém, com certeza. Não se sabe então, quanto a isso, qual seria a culpa específica do ex-ministro.
Outra culpa imputada a ele, para se ficar em linguagem jurídica, é que a vacinação está indo mal. Pode ser, mas nesse caso é necessário explicar por que o Brasil, entre os 200 países do mundo, é o quinto que mais vacinou até hoje; está a caminho dos 12 milhões de vacinas aplicadas, em dois meses de ação.
Salvo a Inglaterra, nenhum país da Europa, nem o Japão ou o Canadá, aplicaram mais vacinas que o Brasil.
O general é acusado – falou-se até em processo na justiça – por sua “negligência” perante o trágico caos sanitário em Manaus, onde faltou “até oxigênio”, nas palavras da mídia. E o que ele teria a ver com a falta de oxigênio em Manaus? Não existe no mundo lugar onde comece a faltar oxigênio de uma hora para outra – isso é um efeito clássico do abandono permanente do sistema hospitalar por quem devia cuidar dele.
É trabalho da Prefeitura e do Estado, ainda mais depois das ordens expressas do STF em suas ordenações gerais sobre a covid. Justo a Prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas, envolvidos desde os primeiros dias da vacinação em fraudes para furar a fila em favor de parentes dos peixes graúdos?
É por essa e por outras que é tão difícil, neste país, alguém ser responsabilizado objetivamente pelos erros administrativos que de fato cometeu. Falam muito, sempre, mas é só isso que acontece – falatório.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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