Não faz sentido que milhões de pessoas que simplesmente não podem ficar em casa sejam tratadas como inimigos da saúde pública
A pandemia de covid é uma só, bem como a devastação causada por suas tragédias, mas gerou dois tipos diferentes de comportamento, cada um com a sua própria moral e seu próprio conjunto de deveres sociais. Os professores, por exemplo, acreditam, com o apoio de muitos pais, que têm o direito de não comparecerem às escolas para dar aulas. Os lixeiros, por seu lado, têm a obrigação de fazer trabalho “presencial” todos os dias, porque professores, pais e o resto da sociedade não abrem mão da coleta diária de lixo; como os lixeiros não têm a opção de fazer o seu trabalho no sistema de home office, considera-se que não podem participar do “distanciamento social”.
A presença de pessoas nas calçadas em frente aos bares, ou na praia, ou no mercado, é severamente condenada como irresponsável; os adeptos mais intensos da “quarentena por tempo indeterminado” dizem que isso está nos limites da atividade criminosa. Já a presença de milhões de pessoas, todos os dias, no metrô, nos ônibus ou nos trens de subúrbio é tida como coisa não apenas normal, mas obrigatória. É a única maneira de levar ao trabalho os profissionais que garantem a luz para a sua casa e o gás para o seu fogão, prestam serviços de enfermagem nos hospitais ou cuidam das operações de delivery – e mais uma lista imensa de atividades cuja manutenção todos exigem, enquanto condenam o que consideram excesso de gente em circulação. Esse povo – quem trabalha – seria culpado, segundo os médicos especializados em falar na mídia sobre a epidemia, de estar espalhando o vírus.
População usando máscara facial para se proteger da doença Foto: Sebastião Moreira/ EFE
Quando jogadores de um grande time de futebol foram declarados como portadores da epidemia, levantou-se um escândalo nacional – que absurdo, disseram vozes indignadas; os jogos têm de parar imediatamente. Quando morrem, como acontece todo o santo dia, trabalhadores que estão produzindo bens e serviços essenciais para a sobrevivência da comunidade (lixeiros, por exemplo), ninguém dá a mínima – e nem se pede a suspensão da coleta do lixo.
A covid-19 levou muitas pessoas, principalmente em função da lavagem cerebral em massa imposta pela superstição médica apresentada como ciência, a desenvolverem a crença de que não vão mais morrer se usarem máscara, lavarem a mão com gel e reduzirem ao mínimo o seu contato com outros seres humanos. Acham que paralisar ao máximo o funcionamento das sociedades é a mais importante virtude que se pode praticar hoje em dia. É uma opção de vida. Mas há no Brasil milhões de pessoas que simplesmente não podem ficar em casa. Não faz sentido que sejam tratadas como inimigos da saúde pública.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro, colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste, publicação da qual integra também o conselho editorial.
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