3 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Uber americano

O post anterior do Uber, para usar uma expressão manjada, gerou uma certa polêmica. Mas me fez lembrar de agosto do ano passado, quando estive na terra mais linda do mundo – quem me conhece sabe do que estou falando.

Acabei pegando vários Ubers por lá – todos conversadores, como costumam ser motoristas em qualquer parte do mundo. Alguns contaram boas histórias, cubanos, venezuelanos, americanos, que provavelmente vão virar texto por aqui. Alguns já viraram, como o Uber mórmon.

Então. Agosto é temporada de furacões nos U.S.A., e, em uma certa tarde, deixei o hotel e pedi um Uber em direção a uma loja de artigos colecionáveis – bonequinhos, como queiram. Cheguei lá já com um ameaçador cone de tornado se formando.

Cariocas em geral odeiam tempestades – meus conterrâneos aqui podem confirmar. Saí da loja com o tornado se aproximando e a chuva começando a cair. Pedi um Uber em frente à loja, localizada em um daqueles mini-malls que se encontram aos montes à beira de todas as rodovias americanas. Quase todos tem Barnes & Noble – refúgios com livros maravilhosos, café e Cheescake Factory. Eu poderia ter ido à pista – mas quem tem khu tem medo, como diria Aristóteles.

Vi o Uber chegando. Era uma senhora, americana. Ela deve ter visto o cagaço, ops, o temor estampado em minha carocha. Sorriu, apontou para as trevas nas quais subitamente havia se transformado uma tarde de sol e disse, com um forte e belo sotaque texano:

  • fique tranquilo. Cão que ladra não morde.

E dirigiu em meio à provavelmente pior tempestade que já vi em minha vida, quase sem visibilidade, com ventos aterradores, ocasionalmente sorrindo quando algo não identificado passava raspando por nós. Ela dirigiu até a entrada do meu quarto no hotel, mesmo podendo me deixar em qualquer ponto na entrada – afinal, o endereço que dei era lá.

Ela aceitou alegremente a gorjeta generosa que dei – americana, gorjetas fazem parte do dia-a-dia – constituída por toda a grana que eu tinha no bolso. Não lembro quanto era, mas seja quanto tenha sido, foi pouco. Não tenho dúvidas que ela me salvou. E partiu – agora em meio a um luar que perfurava as nuvens. O tornado se fora. Os U.S.A. são uma mulher lindíssima e geniosa.

Eu respirei aliviado, e fui comer um cheeseburger com coca light. São melhores lá do que aqui, claro. Assim como alguns Uber…

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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