Eu fui nerd nos anos 70, e um nerd pobre. Aliás, mesmo se rico fosse, não haveria tantas opções dentro da cultura nérdica nos 70’s: era ler e colecionar gibis e álbuns de figurinhas, sendo meus preferidos – e de todos os guris ranhentos como eu – o Batman, o Superman, a Mulher Maravilha – e o Homem Aranha, claro.
Eu amava o Aranha – Peter Parker era um cara como eu, um garoto descobrindo o que era deixar de ser criança e vislumbrar o mundo dos adultos. Um lobo solitário que se valia tanto de seus poderes quanto de sua inteligência.
O guri que nasceu ali no sopé do Morro do Adeus cresceu. Estudou, primeiro música, depois História. Graduou-se. Abandonou, primeiro o Complexo do Alemão, depois o Rio de Janeiro.
A primeira viagem que fiz aos U.S.A. foi logo a Nova York, em 2015. De lá para cá perdi a conta, de quanto fui e quanto aprendi a amar cada vez mais o país.
Mas eu sempre lembro da vez em que, no início da primavera nova-iorquina, em abril, eu parei, à noite, em meio às luzes de Times Square e lembrei da estrada até ali. Foi um baita caminho do menino que subia o Adeus com o avô para ver o Rio de Janeiro lá de cima até os sons e cores de Manhattan.
Pode parecer bobagem para quem nasceu em berço de ouro, coisa comezinha e trivial, mas pensem num menino de favela feliz. Se chorei, ao menos um pouco? A chuva molha?
Todo esse lero-lero insuportável – imagino quantos já não abandonaram o texto até aqui, e com razão – é só para dizer que estou com saudades de Nova York (Texas e Flórida, amo vocês também!), das casas do Queens e do Brooklyn, dos bancos nomeados do Central Park, da Skyline e seus peladões, da Barnes & Noble, meu refúgio predileto do frio, com seus livros e tortas da Cheesecake Factory, daquele Walmart escondidinho ali perto da 5a Avenida, do cachorro quente do Nathan’s (só pão e salsicha, como deve ser), da Grand Central e da Biblioteca, das Starbucks, cujos cafés e wi-fis me salvaram tantas vezes e das minhas lojas de bonequinhos, como a Midtown Comics, onde comecei minha coleção.
E principalmente a Image Anime, ali na rua 37, perto das lojas de caríssimos casacos de couro, onde todos os sonhos de meninos se realizam. Está fechada por conta da pandemia – só atende on line.
Mas ainda vou pegar meu boneco do Homem Aranha da Figma por lá. E a Spider Gwen e o Batman da Revoltech.
Não me olhem assim, vai: eu fui um menino muito pobre.
(fotos, com exceção da entrada da loja: Joseph Agamol)
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.