“Novidade”, dirá um leitor chato, “você vive tomando café, ora essa é boa!”
Parênteses: a maioria dos que me leem são boas-praças, pessoas supimpas, do balacobaco, ——————— (acrescente aqui seu elogio antigo preferido) mas eu também tenho uns pélas, uns parlapatões, uns estremunhados que ovô falá procêis, viu? Gente que só aparece para criticar e emitir sua – não solicitada – opinião chata. Fecha parênteses.
Então. Fui a cafeteria. Corta pra fila do caixa.
– bom dia! Tudo bem? Qual seu pedido? – disse a atendente no modo simpatiquinha clássico.
– oi! Quero… xôvê… uma coca-zero e…
– não trabalhamos com Coca-zero… (aqui, o tom de voz mudou para uma leve reprimenda. Como assim, o senhor toma Coca-zero? Por que não experimenta aquele mix de suco de brócolis com smegma de iaque dos Andes? Tão natural!
– tá. Então me vê uma coxinha, um brownie e um café Latte.
– ok… qual seu nome? – ela sacou a caneta e esperou. Fiz uma pausa dramática.
– Bolsonaro.
– hã? Como?!
Na hora lembrei do Didi Mocó. “Cuma?!” Segurei o riso.
– Bolsonaro.
– hahaha – a atendente, zombeteira, a caneta em riste, abandonando o modo simpatiquinho – ‘cê tá me zoando. Você não é o Bolsonaro.
– não, eu não sou O Bolsonaro. Eu sou UM Bolsonaro, talquêi?
– como assim?
– sou tatatatata-sobrinho-neto dele. O tatatatataravô dele lutou com o meu na Revolução Integro-federa-klingoniana de 1763. Eles fizeram parte do batalhão que enfrentou, em Mordor, as tropas do Imperador Jabba e…
– tátátá! – ela me interrompeu, impaciente. Próximo!
Saí triunfante da fila – segurando o riso com dificuldade, como se estivesse segurando flatos após uma deliciosa feijoada na Mangueira – e aguardei a chamada. Ela veio, impávida e infalível como Bruce Lee.
– Bolsonaro!!!
O café nunca foi tão gostoso.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
