29 de março de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O que há de real é só mesmo a índole

Estou concluindo a 4a temporada de “The Crown”, a série sobre a família real britânica. Gostei mais da 1a e 2a temporadas, com um elenco afiadíssimo, principalmente Claire Foy como a jovem rainha Elizabeth, Vanessa Kirby como sua irmã Margaret e Matt Smith como o príncipe Phillip. Mas não é sobre a série em si – excelente como um todo – que quero falar.

No terceiro episódio da 4a temporada, a rainha decide reavaliar a relação com seus 4 filhos: Charles, Anne, Andrew e Edward. E os convoca, separadamente, para um almoço privado.

Chama a atenção, aliás, o momento em que faz essa convocação: a rainha pede a seu secretário que lhe envie um pequeno resumo pessoal de SEUS PRÓPRIOS filhos, incluindo gostos e interesses.

O caçula, Edward, o primeiro a ser sabatinado, revela que, mesmo que suas notas no colégio possam não estar boas, elas poderão ser alteradas, mediante um “arranjo”. E se preocupa, ao chegar para o encontro com a mãe, com a possibilidade de sua bolsa de 20.000 libras mensais ser cancelada. Segundo ele, a pequena fortuna seria pouco pelo que a família real faz pela nação.

A única mulher da prole elisabetana, Anne, ao conversar com a mãe, revela um caráter amargo e invejoso, diante da ascensão popular da princesa Diana.

Já Andrew chega para o encontro em um helicóptero militar – ao ser questionado pela rainha sobre a legalidade do ato, o príncipe diz que o uso do helicóptero era justificado, pois ia encontrar-se com a chefe da nação.

Finalmente, Charles. Que recebe sua mãe na casa que está construindo em Gloucestershire. Segundo ele, para ficar próximo à irmã Anne – segundo a rainha, que lhe atira à face o argumento verdadeiro, que era para ficar próximo da amante, Camilla Parker.

É claro que “The Crown” é ficção – mas muito do que aparece na telinha é, sim, calcado em fatos reais. Embora não se possa saber o que é dito em encontros privados, pode-se inferir, com base em declarações públicas dos envolvidos.

A conclusão é elementar, como disse uma vez outro integrante do imaginário coletivo britânico, Sherlock Holmes (e ele nunca disse “meu caro Watson” depois): não importa se você ganha 1.000 reais ou 20 mil libras por mês, nem se nasceu plebeu no Alemão ou um rei na Inglaterra:

De Real há a índole só. É só.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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