16 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O dia em que voltei à minha cidade

Estava escuro, ainda. Tinha chovido. Pequenas manchas de óleo espraiavam-se nas poças. Fazia algum frio? Fazia.

Eu caminhei pela rua adormecida. Do sol nem sinal. Eu cheguei em frente ao portão. Entrei em minha antiga casa.

A vitrola incrustada em um móvel: havia um disco no prato. Segurei-o. Uma antiga banda brasileira que cantava em inglês, “Os Prótons”.

Era quase dezembro. A árvore montada. Os enfeites frágeis de vidro colorido. O algodão simulando neve.

A padaria começou a funcionar. Breve o cheiro de pão. Senti fome. CCPL, Plus Vita. Marcas do que se foi.

O adesivo “STP” colado na janela.

O som do jornal atirado no quintal da casa vizinha. O vendedor de vassouras. A TV branca, numa enxurrada de estática.

Meus gibis espalhados. Meu time de futebol de botão. Minhas canetas Sylvapen. No Jornal dos Sports, convocação para o clássico de domingo. Vídeo-tape completo depois.

Procurei minha antiga cama. Eu estava lá. Dormia.

Sem saber do meu Eu desperto, eu rezava, silencioso, pelo meu sonho.

Sem saber que o futuro me reservaria ser a aspereza da adaga que voa.

E a pedra de amolar do punhal que corta.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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