2 de dezembro de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O Brasil foi QUASE feliz…

Há 40 anos, no breve intervalo entre 1980 e 1981, o Brasil foi QUASE feliz – em parte pela simples expectativa da felicidade. E em parte pela música produzida nesse período.

Em 1979, o fenômeno da Disco Music já dava mostras de saturação. O próximo grande evento da indústria da música seria a New Wave – que daria as caras no Brasil com atraso, somente em 1982, com o mega-hit “Você Não Soube Me Amar”, da Blitz. O período espremido entre os dois fenômenos, os anos de 1980 e 1981, deu origem a um momento único na história da Música Popular Brasileira.

Único porque, nesses dois anos, foram lançadas pequenas pérolas pop, livres da fórmula que predominou no Brasil ao longo dos anos 70, a saber: o sambão, a canção de protesto e o romântico escancarado. As canções produzidas nesse período formaram uma nova estética, que já surge plena em 1980, marcada pela sonoridade do violão ovation de cordas de aço – mais próxima de um pop rock do que da MPB em si, mas mantendo os pés firmemente ancorados na música brasileira.

Ao mesmo tempo, essa nova música brasileira produzida em 1980 e 1981 era fortemente influenciada pelo ambiente político e social do país, marcado pela abertura democrática: em 1980, por exemplo, foram aprovados a chamada Lei da Anistia e o fim do sistema com apenas dois partidos, a ARENA e o MDB. Havia uma forte expectativa de renovação e esperança de dias melhores.

O que se refletiu nas canções produzidas em 1980 e 1981, nas quais predominava um tom mais leve e otimista, mesmo nas obras de cunho mais romântico – um exemplo clássico é “Clarear”, gravada pelo grupo Roupa Nova.

Além disso, a Censura sobre os artistas afrouxava, permitindo que a letra de “Bola de Meia, Bola de Gude”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que continha o termo “sacanagem”, fosse liberada – algo impensável apenas um ou dois anos antes.

Ao longo desse curto período, nomes como Ângela Ro Ro, 14-Bis, Kleiton e Kledir, Boca Livre, Oswaldo Montenegro, Fátima Guedes, Vinicius Cantuária, Joyce, Zizi Possi, Lúcia Turnbull, A Cor do Som, Tavito e outros, lançaram canções muitas vezes subestimadas – mas que, principalmente quando comparadas ao que viria depois, se tornariam pequenas obras primas do pop brasileiro.

Em apenas um biênio, o Brasil foi quase feliz. E essa quase felicidade materializou-se nas letras e sons de canções como:

– Só nos Resta Viver, de Ângela Ro Ro;

– Rua Ramalhete, de Tavito;

– Clarear, do grupo Roupa Nova;

– Bandolins, de Oswaldo Montenegro;

– Aroma, de Lúcia Turnbull;

– Toada, do grupo Boca Livre;

– Paixão, de Kleiton e Kledir;

– Alto Astral, do grupo A Cor do Som;

E tantas outras, que não cabem nos estreitos limites de um post de Facebook – quem sabe em um livro.

O Brasil que sonhou em 1980 e 1981 viria a ter um duro choque de realidade nos anos seguintes – que se prolonga até hoje. Mas a beleza das canções que se produziram nesse período, “nem o tempo vai secar” – como diz a letra de “Fonte da Saudade”, lançada em 1980 por Kleiton e Kledir.

Só nos resta viver.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

subscriber
Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *