2 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

O Baratossaurus rex

A moça foi à cozinha para um prosaico copo d’água e… lá estava. Ela fechou os olhos na esperança de que, quando abrisse, a criatura não estivesse mais lá. Em vão. Ela a encarava com ar desafiador e – a moça podia jurar – quase blasé.

A tenebrosa criatura galgava a parede da cozinha, rente ao teto, ágil como uma ginasta olímpica. Experiente. Matreira. Velhaca. Sabia que, àquela altura, ficaria fora do alcance da precisão de chinelos, restando apenas a possibilidade de vagas vassouras, inseticidas e…

Isso! Inseticida! Corajosa e ousadamente a moça passou por baixo da barata – parecia um pterodáctilo, viu? – e alcançou o essebêpê, terrível contra os insetos. Contra os insetos. Premiu o botão e descarregou meia lata no animal feroz que rosnava – rosnava! – para ela. A barata a olhou com desdém. Zombeteira.

Ela brandia a lata de inseticida como um Harry Potter brandia a varinha enfrentando, sei lá, dementadores. A barata voou. Quer dizer, “voou” é licença poética. Uma elegância. Um garbo.

A moça, mais tarde, disse que nunca viu uma barata voar daquele jeito. Juro. Parecia a droga de um condor. Um albatroz. Sei lá. E tão grande quanto. Com aquela envergadura, aquela barata podia tranquilamente entrar no ramo do transporte aéreo de cargas.

Ela atravessou a cozinha, a sala, planando soberana e altaneira como a aeronave dos irmãos Wright – sim, foram eles que inventaram o avião, pare de se iludir. E pousou em cima da coleção de canecas deixadas pela vovó. Que droga.

Os efeitos do essebêpê já se faziam sentir. Já se faziam sentir NA MOÇA – porque a barata parecia ótima, apreciando a coleção com ar de connoisseur. Deve ter usado o essebêpê como enxaguante bucal.

Foi quando a garota tomou uma decisão ousada.

Antes de desmaiar devido ao efeito do inseticida, ela pegou um copo plástico e, tranquila e infalível como Bruce Lee, capturou o Hulk dos insetos, o King Kong das baratas.

E agora? Ela se retorcia, furiosa, dentro do copo e a moça cogitou a possibilidade de que rasgasse o plástico com os dentes. Teve um insight.

Trotou até a geladeira e enfiou corajosamente o copo no congelador.

A não ser que ela tenha uma pelagem de inverno, temos um vencedor.

Mas dizem que a moça não abriu a geladeira até hoje.

Vai que encontra a barata lá dentro, pilotando um daqueles trenós puxados por huskies. Vai que…

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *