20 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Nunca esqueceremos

Foto: o bombeiro Mike Bellantoni, fotografado no 11/09/2001, por Matthew Mcdermott

Ele acordou cedo naquela manhã, como em todas as manhãs daquele dia. Na verdade, “acordou” era apenas um modo de dizer. Tinha rolado na cama desde as 4 da madrugada – como em todas as madrugadas daquele dia. Não importava. Ele tinha um encontro. Um COMPROMISSO.

Parou, a caneca de café aquecendo as mãos. Olhou pela janela. Também não importava quantos anos haviam passado. Sempre sentiria que algo não estava certo. Sempre sentiria que estava faltando ALGO. Algo que ele se acostumara a ver da janela e até no cinema. “King Kong”, a refilmagem dos anos 70. O primeiro “Homem Aranha”. Estavam lá. “Sempre estariam”, pensou, “ao menos em mim”.

Terminou de vestir a farda. Os olhos umedeceram – como sempre, em todas as manhãs daquele dia. Vinte anos? Que droga, ele lembrava como se tivesse sido ontem. O gosto de fuligem. O cheiro da multidão. Os olhares incrédulos diante da infâmia cometida. Nunca esquecer? Seria uma ofensa à si mesmo se sequer OUSASSE tentar esquecer.

Caminhou até o monumento. Curvou a cabeça e fez uma pequena prece silenciosa. Viu cada um dos que tinham partido, os amigos, os companheiros de profissão e até os desconhecidos. Nunca esquecer? Como ele poderia SEQUER PENSAR NISSO? Como, se para ele, naquela manhã, seria sempre como todas as manhãs daquele dia?

Um dia eles se veriam novamente, pensou, mas não nessa manhã. Enxugou os olhos com as costas da mão – e seguiu em frente.

Como em todas as manhãs desde aquele dia.

(Texto: Joseph Agamol )

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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