20 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Jordan Peterson e o homem que amava os passarinhos

Gosto de longas caminhadas, e, em minhas andanças pela minha aldeia descobri uma casa, abandonada há tempos, no fundo de um grande terreno, e cercada por um longo muro, com um portão daqueles que só se veem nos filmes antigos. Mas não é sobre a casa que quero falar. É sobre o muro. E os passarinhos.

Todas as vezes em que passei por ela, o muro estava coberto por frutas: bananas, laranjas, sapotis, em pedaços, algumas já ressecadas pela ação do sol. Sempre imaginei que alguém, um velhinho, por certo, punha ali as frutas para alimentar os passarinhos – são muitos por aqui.

E também sempre imaginei esse velhinho hipotético pegando frutas desprezadas, talvez partes descartadas, o que já seria meritório, claro: para as avezinhas não faria diferença, sempre estavam por ali, esfomeadas, já vi de tudo naquele muro, sabiás-laranjeira, peiticas-de-chapéu, gralhas do campo, tesourinhas, noivinhas-brancas e pássaros-pretos, periquitos-ricos, de um tudo mesmo, quase a letra de “Passaredo”, do Francis Hime e do Chico, inteira.

Pois bem. Hoje passei de carro pela casa antiga e solucionei o mistério – um senhor, nem tão velhinho, na casa dos 60 e poucos, talvez, com uma sacola de frutas: descascava (ou ”cascava”, como se diz aqui) um gordo melão. Nas muitas árvores que povoam o quintal da casa, os passarinhos aguardavam, pacientes. Então não se tratavam de frutas desprezadas, jogadas à esmo sobre o muro: eram frutas maduras, que ele fatiava com cuidado (amor?) e dispunha sobre o muro, com esmero.

Algum chato – sempre os há – poderá bradar, retrucando:

– mas que DESPERDÍCIO! Por que não dar as frutas para uma pessoa pobre?!

Não sei. Minha cidade ainda é pequena, graças ao Eterno: não temos quase pessoas na rua, e crianças abandonadas não há. E existem muitas árvores frutíferas, quase sempre carregadas.Talvez o senhor apenas ame os passarinhos, de um amor só seu. Talvez ele os ame tanto que não suporte vê-los aprisionados, e, assim, ao ajudar em seu sustento, mantenha-os próximos a si. Sei lá.

Ou talvez ele esteja praticando, sem saber, as belas palavras de Jordan Peterson, sobre SIGNIFICADO:

“Considere que aliviar dor e sofrimento desnecessários é um bem. Faça disso um axioma: com o melhor das minhas habilidades agirei de forma que alivie dor e sofrimento desnecessários. Conserte o que puder consertar.”

Porque, ao fim e ao cabo, é disso que se trata:

Propósito.

E o Significado como bem maior.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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