E, como sempre acontece quando estou diante da presença imponente da natureza, penso.
Os humanos passarão, todos, em suas histórias e memórias, seus grandes feitos, suas mesquinharias.
E a Serra do Mar permanecerá, pelos séculos dos séculos, abrigo de animais poderosos e espíritos da floresta, devas protetores, elementais da terra, da mata, das águas doces, onças negras e pintadas, suçuaranas, maracajás, ariranhas, e seus suaves nomes de origem indígena.
A Serra do Mar triunfará, e pouco a pouco retomará as cidadelas abandonadas do bicho-homem: eu vejo a selva a enviar seus batedores, e trepadeiras e orquídeas treparão nos arranha-céus da Paulista.
Carros elétricos de luxo tornar-se-ão ninhos de tatus, e capivaras serão vistas às margens de águas agora límpidas do Tietê. Starbucks abrigarão mochos e corujas, os jaguares caçarão bugios nas florestas do Morumbi.
E a rainha harpia a tudo observando do alto do Viaduto do Chá.
Hoje voltei para casa pela Serra do Mar.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.