6 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

Era uma tarde de abril de 2015. O sol se punha sobre a tal “cidade que nunca dorme”

Um homem grande, com seus 50 anos incompletos, repleto de tatuagens, parou no meio da rua e olhou ao seu redor, fazendo um desajeitado giro de 360 graus enquanto isso. A Times Square brilhava em meio à luz dourada do poente. Fazia frio, ainda, e ele ajeitou a jaqueta jeans comprada ali ao lado, na Levi’s. Quem passou perto talvez tenha reparado em seus olhos úmidos. As lágrimas de quem estava lembrando a estrada percorrida até ali. Tirou mais uma foto e mergulhou na noite, a caminho de voltar para o hotel, bem pertinho.

O homem grande, tatuado, era – quem ainda não adivinhou? – eu. O hotel era o Row Nyc, que eu amei desde a primeira estadia.

O Row era um hotel simples, perfeito para quem passava o dia palmilhando as ruas da Big Apple, como eu, pouco interessado em monumentos turísticos, mas apaixonado pelas flores, pelas entradas das casas abaixo do nível da calçada, pelas livrarias e museus.

Ao entrar nele, você era imediatamente BANHADO pela típica música new yorker, uma mistura saborosa de blues, jazz, soul e dance music, que o acompanhava desde o saguão até a porta do quarto.

Hoje soube que o Row Nyc fechou. Foi comprado ou arrendado pela prefeitura, não sei. Só sei que isso me deixou triste pacas.

Talvez alguns de vocês estejam pensando: “putz, que futilidade, amigo… é só um hotel, afinal…”

Aquela foi minha primeira vez em Nova York. Mas quem estava quase às lágrimas, ali, naquela fria tarde/noite típica da primavera nova-iorquina, não era propriamente o homem de 50 anos: era o menino nascido na periferia carioca, cuja maior dúvida ao acordar não era o que teria para o almoço, mas sim SE TERIA ALMOÇO.

O Row não foi só um hotel, Nova Iorque é meu lugar especial no mundo, e o menino…

Bom, ele me espia de vez em quando, por detrás dos meus olhos cinzentos, como que a dizer:

“Não esqueça de onde você veio, cara. E nem de quem você foi.

Nem de quem você foi.”

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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