Mangavam dele, como dizia minha avó. Faziam troça de sua casaca puída, de seu manto antiquado de papos de tucano. Zombavam de sua mania de “andar enfiado com a cara nos escritos”. Faziam comparações desfavoráveis com seu pai – também Pedro, tocador de violão, cavaleiro exímio, espadaúdo e despachado. Em contraste com seu jeito taciturno, quase tímido para um imperador. Faziam chacota de seu pouco apreço pelas liturgias da corte:
“Que maçada!”, reclamava, diante de uma festa, de um jantar, de uma cerimônia.
Não era homem de cerimônias: era um homem dos livros. Dizia que tornou-se imperador por acaso e necessidade – mas o que queria mesmo… ah, o que queria mesmo era ser PROFESSOR. Ao contrário de tantos que o sucederam, jamais subtraiu algo ao Brasil: ao contrário, sempre doou de si para o país que amava.
Eu disse que nunca subtraiu? Errei: levou consigo um pouco da terra da sua terra, ao ser deposto por um covarde golpe – sim, um golpe de verdade, ocorrido na data de hoje. Mas eu comemoro é Pedro, viu?
Diziam que já nasceu velho. Pois eu digo que ele entrou na eternidade exatamente como o menino dessa imagem: com seus brinquedos simples, seu tamborzinho, seus amigos. E, nesse exato momento, está pulando carniça com as nuvens, feliz como sempre quis ser.
Dom Pedro II, o menino-rei.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.