Não, amigos, não esperem aqui altas elucubrações filosóficas educacionais para esgrimir erudição.
Como dizia Fernando Pessoa, em “ Lisbon Revisited”: “Tirem-me daqui a metafísica!”
Sou um cara simples, pragmático, rústico, talvez, meus detratores me considerem até um pouco bronco: os alunos me chamavam de “ogro”, numa época em que o “ork style” nem era moda.
Sou um ogro raiz, portanto.
Sendo assim, não vou aqui enfileirar “ismos” variados como panaceia para os males da educação brasileira.
Até porque, na verdade, é tudo muito simples.
E minha experiência de 20 anos como professor nos lugares mais casca-grossas do Rio de Janeiro me habilita, licencia, pós-gradua, doutora e pós-doutora para prescrever a receita, em dois passos básicos.
1 – aumentar SIGNIFICATIVAMENTE os salários dos professores. É óbvio, eu sei. Como a pelagem do tigre é óbvia. Mas quem vê o tigre no meio da floresta?
Então.
Parem de gastar grana com cestas de Natal, vales isso e vales aquilo variados para os docentes e transformem isso em grana na conta corrente.
Viram só? Até rimou.
Vamos ao segundo ponto.
2 – recuperar a boa e velha disciplina do professor em sala de aula.
Menos óbvio do que a questão financeira, mas, para mim, no mesmo grau de relevância.
Pode parecer incrível, mas os alunos – ao menos os que querem transformar seu período em sala de aula em uma experiência de real aprendizado – não gostam, de verdade, do professorzão bonzão amigãozão, sabem?
Aquele que nem percebe se os pestinhas amarraram um desafortunado coleguinha numa estaca e estão dançando como índios em volta, como num filme de John Wayne.
Os alunos gostam é do professor cascudo, que chega com o pé na porta, e não leva desaforo para casa. Posso falar de cátedra isso, porque eu era assim.
Alguns maldosos diziam que era fácil para mim, com 1,85m e quase 100kg, manter a lei e a ordem em sala, quase um Clint Eastwood de apagador e giz.
Mas conheci professorinhas – diminutivo totalmente carinhoso, caso precise esclarecer – de 1 metro e meio que eram pequenos Churchills de tanta autoridade.
Portanto, garantir apoio às decisões desses caras dentro da escola não é só importante – é FUNDAMENTAL.
Pronto. Não disse que era pragmático? Rude? Quase como aquele troll de O Hobbit?
Há uma fábula judaica que diz que, certa vez, os maiores sábios se reuniram para decidir qual deles seria capaz de elaborar uma lei que contivesse toda a sabedoria da época e que fosse sucinta o bastante ser declamada por alguém equilibrando-se em uma só perna.
Estou longe de ser um sábio – “muuuuuito longe, Joseph, meu velho…”, diz uma vozinha irônica interior – mas essas duas medidas aparentemente tão simples, se implementadas, abrem o Espelho para o mundo de Alice, a Estrada de Tijolos Amarelos para Oz, as portas do guarda-roupa para Nárnia.
É simples, é elementar, meus caros Watsons – como nunca disse Sherlock Holmes.
Algum engraçadinho pode perguntar:
“Peraê! E o DINHEIRO para isso?! Sai de onde?!”
Preciso MESMO responder?
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.