20 de maio de 2024
Colunistas Joseph Agamol

A uberista venezuelana

Voltei há uns dias dos EUA e, durante as duas semanas em que estive na Flórida, tive a oportunidade de usar o serviço do Uber americano.

Peguei motoristas de variadas nacionalidades: uma americana típica, um cubano que tinha vindo ainda criança para Orlando, e uma jovem venezuelana – que me conduziu em meio a um princípio de tornado. A conversa que se seguiu, mesclando inglês, espanhol e português, foi mais ou menos assim.

Ela deu o pontapé inicial:

– where do you from?

– i’m brazilian.

– oh! Brasil, gosto muito!

– ah, você fala português?

– un poquito! Parece um pouco espanhol, não?

– sim, são línguas com várias semelhanças. E você, é de onde?

– Venezuela!

Foi minha vez de retribuir a gentileza:

– a Venezuela é linda!

Eu juro que nem ia falar de política. Foi ela que começou. Juro.

– si, um lindo país, mas… a Esquerda acabou com ele!

Foi minha deixa:

– é, a América inteira está indo na mesma linha, né?

– vocês ainda têm seu presidente! Mas se o OUTRO voltar… babau!

E ela fez um gesto universalmente característico de ”ferrou”. Achei curioso que ela não quis pronunciar o nome do inominável Inocente. Eu a entendo.

A conversa prosseguiu com ela dizendo que conseguiu trazer toda a família para os Estados Unidos – moça sábia – e afirmando que ia estar na torcida para a reeleição do Biroleide – ela não chamou assim, claro.

Foi quando ela apontou para uma inconfundível forma de funil se aglutinando à nossa frente e perguntou se eu estava preocupado. Respondi que nasci no Rio de Janeiro e cariocas já nascem olhando pro céu para ver se vem chuva. Ela riu. Foi minha vez de perguntar se ela não tinha medo de dirigir em meio à um tornado. Ela deu de ombros – outro gesto universal – apontou para a tempestade e disse:

– perro que ladra no muerde.

E arrematou:

– isso aí é moleza perto do que vai acontecer no Brasil se o outro ganhar.

Agradeci o papo, desci no meu objetivo – uma loja de bonequinhos colecionáveis, a propósito – e segui em frente, achando que a jovem e sábia venezuelana estava, sim, com muita razão.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *