Voltei há uns dias dos EUA e, durante as duas semanas em que estive na Flórida, tive a oportunidade de usar o serviço do Uber americano.
Peguei motoristas de variadas nacionalidades: uma americana típica, um cubano que tinha vindo ainda criança para Orlando, e uma jovem venezuelana – que me conduziu em meio a um princípio de tornado. A conversa que se seguiu, mesclando inglês, espanhol e português, foi mais ou menos assim.
Ela deu o pontapé inicial:
– where do you from?
– i’m brazilian.
– oh! Brasil, gosto muito!
– ah, você fala português?
– un poquito! Parece um pouco espanhol, não?
– sim, são línguas com várias semelhanças. E você, é de onde?
– Venezuela!
Foi minha vez de retribuir a gentileza:
– a Venezuela é linda!
Eu juro que nem ia falar de política. Foi ela que começou. Juro.
– si, um lindo país, mas… a Esquerda acabou com ele!
Foi minha deixa:
– é, a América inteira está indo na mesma linha, né?
– vocês ainda têm seu presidente! Mas se o OUTRO voltar… babau!
E ela fez um gesto universalmente característico de ”ferrou”. Achei curioso que ela não quis pronunciar o nome do inominável Inocente. Eu a entendo.
A conversa prosseguiu com ela dizendo que conseguiu trazer toda a família para os Estados Unidos – moça sábia – e afirmando que ia estar na torcida para a reeleição do Biroleide – ela não chamou assim, claro.
Foi quando ela apontou para uma inconfundível forma de funil se aglutinando à nossa frente e perguntou se eu estava preocupado. Respondi que nasci no Rio de Janeiro e cariocas já nascem olhando pro céu para ver se vem chuva. Ela riu. Foi minha vez de perguntar se ela não tinha medo de dirigir em meio à um tornado. Ela deu de ombros – outro gesto universal – apontou para a tempestade e disse:
– perro que ladra no muerde.
E arrematou:
– isso aí é moleza perto do que vai acontecer no Brasil se o outro ganhar.
Agradeci o papo, desci no meu objetivo – uma loja de bonequinhos colecionáveis, a propósito – e segui em frente, achando que a jovem e sábia venezuelana estava, sim, com muita razão.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.