Era uma vez, em um pântano do Principado do Bananistão, uma linda rãzinha dourada. Muito chic, cool, uma dândi, finérrima, quase uma narcisa batráquio.
Era tão elegante que se recusava a saltitar pelo pântano, como as rãs comuns, e só se locomovia de Kombi.
Era linda, como eu disse, mas meio nariz empinado, meio besta, metida a obrar cheiroso, vocês conhecem o tipo. Sabem o que é “obrar”, pois não?
Um belo dia, um escorpião barbudo apareceu na casa da rãzinha. Ela estava sentada em seu imponente muro, tomando sol, e ali se manteve, cautelosa.
O escorpião barbudo falou, com uma voz roufenha e trôpega: “parecia bêbedo”, pensou a rãzinha. Sim, ela falava “bêbedo” em vez de “bêbado”. Não disse que era fina?
- éééé, cupanhera rã, bom dia. Eu preciso passar lá pra riba desse brejo, mas tô fud… quer dizer, tô lascado, pruque eu num sei nadá. A senhora não poderia me levá em seu lombo para o outro lado?
A rãzinha titubeou. Mas pensou que o escorpião barbudo não seria tolo o bastante para lhe aplicar uma picadura em meio à travessia: afinal, ambos sucumbiriam no pântano. A rãzinha, então, deixou o repulsivo animal encarapitar-se em suas costas e iniciou a travessia do pântano. Não estavam nem na metade do mandato, ops, da travessia, quando ela sentiu um ardor no lombo. Dito e feito! O escorpião barbudo a tinha picado! - seu burro!!! Seu jegue!!! Seu asno!!! Seu… seu MUAR! – ela gastou seu estoque de xingamentos asininos – Você me picou e agora ambos pereceremos nesse pântano fétido!
O escorpião barbudo, meio sem jeito, disse: - éééé cupanhêra rã… essa é a minha narute… natere… ah, essa parada aí!
E arrematou: - mas mais jerico é você, que acreditou que escorpião muda…
Moral da História?
Não tem, amigos e vizinhos. Essa é uma história imoral – desde o início.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.