Eu saúdo a que talvez tenha sido a última geração de homens e mulheres fortes – aqueles nascidos entre os anos 60 e 70: a Geração Ômega.
A Geração Ômega ia ao estádio ver seu time jogar e sentava o bumbum em arquibancada de cimento. Cimento, viu? Debaixo de um sol de 40 graus, e isso só para ver Olaria x Flamengo, por exemplo, no antigo campo da rua Bariri.
A gente ligava o rádio e chacoalhava era ouvindo Bee Gees, Queen e Kiss.
Se fosse para dar aquele amasso no portão – ou no banco do Opala ou do Corcel – a gente gravava uma fitinha K-7 com Elton John e Cat Stevens. E torcia para não engasgar na Hora H. A fitinha, tá?
Sorvete era aquele de máquina, que se desenovelava feito… sorvete!
Doce de leite era vendido naqueles expositores de vidro giratórios.
A melhor água era da mangueira, quando a vizinha lavava o quintal.
Tanto a máquina de sorvete quanto o expositor giratório eram limpos mais ou menos a cada passada do Cometa de Halley – e estamos aqui.
Pelo menos a mangueira era lavada diariamente…
Os afortunados ganhavam um trocado para a merenda – que só dava para aquelas fatias de pizza ou um ovo cozido – e colorido – no boteco da esquina.
Ambos datavam do período Cretáceo – mas nós comíamos assim mesmo.
Sei lá, parece que consumir produtos confeccionados sem higiene nos fez mais resistentes…
Olhar atravessado para a mãe podia significar uma raquetada correcional instantânea – ou pior, a sentença condenatória: “espera seu pai chegar”.
Vacina era aplicada com pistola. Pistola, viu? E quem usava Merthiolate era sortudo: dureza mesmo era o iodo, aplicado direto no corte…
E o Neocid na cabeça para matar piolho? Ou o piolhento, o que fosse primeiro?
E estamos aqui. Sei lá.
Esse texto começou meio que em tom galhofeiro mas, vocês sabem que, olhando assim, em perspectiva, revisitando tudo isso… talvez a Geração Ômega tenha mesmo produzido a última fornada de homens e mulheres realmente fortes a habitar esse planeta. Talvez.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.