Em 2021 completar-se-ão cinco anos que deixei o Rio de Janeiro. Perguntam-me se não sinto falta de minha terra natal. Sinto falta de algumas coisas, sim: a feijoada, sem igual. Uma cafeteria chamada “Tabaco”, situada no subsolo do Edifício Avenida Central. Uma rede de lojas de doces chamada “Brownieria”. Tirando a feijoada, nem sei se o resto ainda existe. Talvez nem a feijoada seja igual.
Fico pensando em como o Rio chegou ao ponto de hoje. E, com isso em mente, elaborei uma breve cronologia da decadência da minha cidade, exclusivamente baseada em minha vivência pessoal.
1972: eu tinha sete anos. Costumava subir o Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, a pé, com meu avô português. Ficávamos lá em cima, desfrutando o silêncio, a paz e a vista da cidade aos nossos pés.
1974: tenho uma foto desse ano, sentado no degrau da porta do corredor da casa onde morava na época, corredor no qual uma vez meu vô disse que viu um homem sem cabeça. Meu avô não mentia. Se ele disse que viu, viu. Mas isso é outra história. A foto foi tirada por um dos fotógrafos de rua, comuns à época. Fotografavam as pessoas, e, alguns dias ou semanas depois, voltavam com as fotos reveladas para quem quisesse comprar.
1979: a lei da Anistia, assinada pelo então presidente, o general João Figueiredo, permitiu o regresso de centenas ou milhares de exilados políticos.
1982: somente dez anos após o dia no qual o garoto que eu fui subiu o morro do Adeus com meu avô, o ex-exilado Leonel Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro, cargo para o qual foi reconduzido pelo povo carioca e fluminense em 1990.
1992: foi realizada no Rio a Conferência Mundial do Meio Ambiente, conhecida como Eco 92 ou Rio 92. E, apenas dez anos depois da primeira eleição de Brizola, o governo solicitou o reforço de tropas do Exército para garantir a segurança das autoridades estrangeiras presentes.
Fico imaginando em que ponto do percurso a cidade se perdeu, que caminhos o acaso percorreu entre o tranquilo morro de 1972 até as hordas de zumbis usuários de crack que percorriam a Lapa, bairro onde eu morava em 2015.
Talvez não tenha sido acaso. Talvez minha pobre cidade tenha sido escolhida a dedo, pelos mentores das ideologias revolucionárias, os homens que movem os cordões.
Talvez o Rio, com sua característica única e singular de coexistência entre o luxo e a pobreza quase obscenos, único lugar do mundo onde da cobertura suntuosa pode-se avistar a laje da casa de pau-a-pique, e vice-versa, tenha sido escolhido a dedo, com um imenso potencial de ressentimento latente pronto a ser capitalizado.
Pode ser só coincidência, tudo que aconteceu a partir dali.
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