imagem: Correio da Manhã / Arquivo Nacional
É, amigos e vizinhos: suspeito que o tal projeto civilizacional brasileiro começou a naufragar quando o simpático papel de pão começou a ser substituído pelas insípidas, inodoras e incolores sacolas de plástico.
(Parênteses rápidos: se bem que falar em “projeto civilizacional”, em termos de Brasil, é uma quimera: eu acreditaria mais em um hipotético projeto civilizacional das, sei lá, capivaras ou toupeiras-nariz-de-estrela do que no do Brasil).
Lembro bem como era chegar à padaria, de manhã cedinho, esperar o pão sair do forno, e tê-lo embrulhado naquele pedaço de papel cinza, de consistência padronizada, que o acondicionava, protegia e mantinha intactos o sabor, a temperatura e a umidade – até chegar em casa.
Imagino quantos números de telefone -telefone, 6 ou 7 dígitos! – foram obtidos e anotados em prosaicos papéis de pão. Quantos poemas, cartas de amor, declarações, desabafos, foram gravados na folha cinza. Dizem que a letra de uma das maiores canções da música popular brasileira, “Águas de Março”, foi escrita em um papel de pão.
O Brasil começou a fracassar quando deixamos de ter Tom Jobim escrevendo genialidades em papel de pão.
Agora parece que é só pau, pedra – o fim do caminho.
Mas eu continuo esperando as promessas de vida em nossos corações.
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.
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