É primavera agora, as calçadas cheias de poças d’água e lindas gotas de óleo multi-cores, mas ela não sabe ainda o quão, nunca ouviu falar nesse poema de Gullar, ela é toda antecipação da caçada: “será que naquela casa vai ter?!”, “ano passado eles deram!”, “até brinquedo!”.
É cedo agora, as sacolas vazias ainda, são nem 8h, as mães já recomendaram, em vão elas sabem, “de volta na hora do almoço senão tu vai ver só!”, e a criança sabe que essa é uma das vezes que essa é uma ameaça que não será concretizada…
E os jovens lobos e lobas correm libertos como numa canção de “Easy Rider”, kichutes e congas e havaianas, correm os joelhos ralados e as almas livres de feridas, correm como se não houvesse passado – e não há – correm em direção a doces e guloseimas e travessuras e gostosuras… Correm, ao fim e ao cabo, em direção a um magnífico sol que se expande no céu turquesa como um dólar de ouro de filmes do Clint e a um passo de um futuro que todas tem certeza que será radiante, futuro de astronautas e desenhistas e pilotos de fórmula 1…
Mas elas nem pensam nisso agora, é 27 de Setembro e há pipocas e cocôs de rato e doces de leite em tablete e marias-moles e pés de moleque.
Pés de moleques que correm, correm para um porvir sem a menor dúvida luminoso – e que aguardam atrás da próxima esquina do quarteirão da Matriz e do Instituto…
Professor e historiador como profissão – mas um cara que escreve com (o) paixão.