25 de abril de 2024
Colunistas Joseph Agamol

A carta de dona Amélia ao menino Pedro II é o que de mais bonito você vai ler hoje

Imagem: litografia de dona Amélia por Cäcilie Brand

Em 1831, dom Pedro I abdicou do trono brasileiro em favor de seu filho Pedro, então com 5 anos. Dona Amélia, esposa do imperador e madrasta de Pedro, deixou-lhe uma carta antes de partir para o exílio. Você não vai ler nada mais bonito, nem hoje, nem talvez por toda a semana. Seguem trechos:

“Rio de Janeiro, abril de 1831.

Adeus, menino querido, delícia de minh’alma, alegria de meus olhos, filho que meu coração tinha adotado; adeus, para sempre, adeus! Quanto és formoso, neste teu repouso. Meus olhos chorosos não se podem fartar de te contemplar; a majestade de uma coroa, a debilidade da infância, a inocência dos anjos cingem tua engraçadíssima fronte de um resplendor misterioso, que fascina a mente.

Eis o espetáculo mais tocante que a Terra pode oferecer. Quanta grandeza, quanta fraqueza a humanidade encerra, representada por uma criança. Uma coroa e um brinco, um trono e um berço! A púrpura ainda não serve senão para estofo e aquele que comanda exércitos e rege um império carece de todos os desvelos de uma mãe.

Ah!, querido menino, se eu fosse tua verdadeira mãe, se minhas entranhas te houvessem concebido, nenhum poder valeria para me separar de ti, nenhuma força te arrancaria de meus braços. Prostrada aos pés daqueles mesmos que abandonaram meu esposo, eu lhes diria entre lágrimas: ‘Não vede mais em mim a Imperatriz, mas uma mãe desesperada. Permiti que eu vigie nosso tesouro. Vós o quereis seguro e bem tratado e quem o haveria de guardar e cuidar com maior devoção? Se não posso ficar a título de mãe, eu serei sua criada ou sua escrava.’

Mas tu, anjo de inocência e de formosura, não me pertences senão pelo amor que dediquei ao teu augusto pai; um dever sagrado me obriga a acompanhá-lo em seu exílio, através dos mares e terras estranhas. Adeus, pois, para sempre, adeus!

Mães brasileiras, eu vos confio este preciosíssimo penhor de felicidade de vosso país e de vosso povo; ei-lo tão belo e puro como o primogênito de Eva no paraíso. Eu vo-lo entrego agora e sinto minhas lágrimas correrem com menor amargura. Ei-lo adormecido.

Brasileiras, eu vos imploro que não o acordeis antes que eu me retire.

Adeus, órfão Imperador, vítima de tua grandeza, antes que a saibas conhecer. Adeus, anjo de inocência e de formosura, adeus!

Toma este beijo, e este… e este último. Adeus para sempre, adeus!

ass.: Amélia, Duquesa de Bragança.”

O que me surpreende, amigos e vizinhos, não é o amor monumental que exsuda, que JORRA da carta de dona Amélia, embora seja algo admirável.

O que me surpreende mesmo é saber que dona Amélia tinha apenas 19 anos ao escrever esse texto.

Joseph Agamol

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

Professor e historiador como profissão - mas um cara que escreve com (o) paixão.

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