Bolsonaro entrou com ação no STF contra medidas restritivas para conter a Covid-19 em três estados.
Esta decisão, de certa forma, representa um avanço. Ele estava prometendo resolver o problema por decreto, agora já aceita a mediação do STF.
Seus argumentos são de que a epidemia está acabando e o processo de vacinação está avançando.
São premissas falsas, embora o processo de vacinação avance lentamente.
Estamos no limiar de uma terceira onda, ainda com um patamar muito alto de mortes. Para se ter idéia, um dos estados que Bolsonaro visa é o Paraná. As notícias de Curitiba, por exemplo, não são nada boas: 100 por cento de ocupação nas UTIs e o inverno está apenas chegando.
Bolsonaro quer que a epidemia vá embora logo. Nisso, estamos juntos. No entanto, é preciso aceitar a realidade para poder superá-la. Se fechamos os olhos, a tendência é sempre piorar.
As duas premissas estariam corretas se, lá atrás, Bolsonaro não vacilasse diante da compra de vacinas, já estaríamos muito mais perto dessa situação que ele desenha em seus argumentos contra os estados.
Quem não gostaria de ver tudo funcionando? Em Paris, os bares e restaurantes abriram e a cidade voltou a ter um ar festivo. Portugal volta à normalidade e recebe milhares de turistas.
Os Estados Unidos, depois de um intenso processo de vacinação, quatro milhões de doses por dia, começam também a respirar e Nova York se abre de novo para o turismo e o faturamento que ele traz.
Países como a Índia e o Brasil ainda estão num nível muito alto de mortes e contaminações.
Temos um caminho a percorrer. Algumas conquistas já foram feitas. O processo de vacinação é lento, mas já atingiu quase 20 milhões de pessoas. Parte delas, como é meu caso, com duas doses aplicadas.
Mas ainda assim, o quadro geral é preocupante. A chamada terceira onda era esperada para julho e parece que está chegando com um mês de avanço, alcançando-nos com alto nível de mortes e exaustão no sistema de saúde.
Publiquei um artigo no Estado de São Paulo criticando a manifestação de domingo, na qual Bolsonaro e Pazuello desfilaram sem máscara.
Alguns adeptos do governo, perguntaram se criticaria a manifestação da esquerda marcada para amanhã. Respondi: se não forem respeitados os protocolos de segurança, criticarei do mesmo jeito.
Aliás, mesmo com respeito ao protocolo, duvido da conveniência de sair às ruas agora. Pode-se argumentar com as manifestações americanas que, no ano passado, não só condenaram a morte de George Floyd mas ajudaram a derrotar Trump.
No caso brasileiro, temos essa conjuntura delicada e é preciso admitir que a população brasileira é mais resistente às regras de segurança sanitária.
Ela pode interpretar essas manifestações como um sinal de normalidade. E no meu entender, a pandemia não foi resolvida e não o será tão cedo.
Ontem, Dimas Covas, diretor do Butantan, previu que ela se estenda até 2022. Concordo com ele pois, ao contrário do Ministro da Saúde, não acredito que a população adulta brasileira, cerca de 62 milhões de pessoas, estará vacinada até o fim do ano.
Que, pelo menos, tenhamos no fim de semana, um belo dia como tivemos hoje, sol brando, brisa, o bom tempo ajuda a nos sentirmos em paz.
Fonte: Blog do Gabeira