Este é o último diário desta quarentena. Amanhã cedo, volto para a estrada.
Estou assistindo ao depoimento de Emanuela Medrades, diretora da Precisa, a empresa que ia vender a vacina Covaxin, por US$15 a dose.
No dia anterior, não queria falar. Pressionada por uma decisão do STF (Fux relativizou o direito ao silêncio) ela respondeu a todas as perguntas.
Falta agora interrogar o dono da empresa, Francisco Maximiniano, o que será feito em agosto.O negócio é muito complicado.
Pedidos de adiantamento, não entrega da vacina, falta de autorização da Anvisa, tudo muito estranho.
A empresa chamava-se Global e deu um cano no governo em 2017.
O problema central é que Bolsonaro foi avisado de tudo e nada fez.
Por falar em Bolsonaro, ontem no podcast com Lauro Jardim, afirmei que Bolsonaro estava sofrendo de insônia e soluços, que só um exame mais profundo poderia definir o que há.
O corpo de Bolsonaro acabou dando um alarme mais poderoso na forma de dores na barriga.
Possivelmente, Bolsonaro tem problemas mais sérios, que pedem uma cirurgia.
A minha opinião é a de que não importa o que tenha fisicamente, o estresse contribui para agravar os seus problemas. Bolsonaro tem estado muito agressivo.
Anteontem resolveu atenuar sua atitude. Mas isso dura pouco.
É difícil dirigir um país que, majoritariamente, o considera incapaz e pouco inteligente para o cargo.
Além disso, é difícil ter se aproveitado tanto da bandeira da honestidade e constatar que 70 por cento dos entrevistados na pesquisa do Datafolha acredita que há corrupção no seu governo.
É muito cedo para avaliar se isso terá ou não consequências.
Os problemas físicos devem ser resolvidos, mas o estresse pode sempre trazer outros e não é algo que se resolva com facilidade.
O próprio cargo já é muito estressante. É preciso de um mínimo de maturidade para desempenhá-lo.
Aquele festival de jazz na Bahia que foi rejeitado pelo governo vai sair. O escritor Paulo Coelho vai bancar. O argumento do governo era obscurantista. Segundo ele, a arte deveria glorificar Deus.
A partir de agora, vou entrar com menor regularidade. No Instagram tentarei transmitir algumas imagens da estrada…
Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.