Os dias estão ficando mais corridos. Ontem gravei no estúdio da Globonews. Muitos pensaram que voltei em definitivo. Hoje gravei em casa, depois de amanhã caio na estrada de novo, e gravarei comentários de qualquer lugar que tenha uma conexão razoável.
O tempo ficará mais curto para diários. O próprio Instagram deve ser um pouco no início. Sinto-me como um jogador que ficou mais de um ano fora dos jogos. Preciso de algum tempo para recuperar o ritmo.
A diretora da Precisa, aquela empresa que vendeu a Covaxin, não quis falar na CPI. Houve um Deus nos acuda, consultas ao Supremo.
Segundo a decisão do Ministro Fux, ela não precisava responder às perguntas que a comprometessem. Ela resolveu não responder a nada. Os senadores ficaram nervosos.
O problema é que tendo o poder de decidir sobre o que a compromete ou não, ela subjetivamente pode recusar qualquer pergunta.
É um pouco quando se diz: tudo o que você falar pode se voltar contra você. A pessoa então decide falar nada porque aí não corre risco.
A tevê estava tratando o tema com muita emoção. Sinto que baixei o tom, ao afirmar que nada de importante iria acontecer. Se tem o direito de se calar, tem o direito também de escolher o momento de falar.
Na minha opinião, embora torça pela CPI, acho que não ali não é uma confessionário. As pessoas comparecem com advogados, munidos de habeas corpus do Supremo. Não se arrancará nada de importante delas. É preciso mudar de tática, para avançar.
Posso estar enganado quanto à questão jurídica. Muitas pessoas afirmam que estou. O caso subiu para nova decisão de Fux. Não é tão simples pois ele pediu algum tempo para decidir.
Já o mesmo não acontece com as investigações propriamente ditas. Consultas a documentos, cruzamento de dados, avaliação de contas bancárias.
O governo cubano decidiu por um apagão na internet para esfriar as manifestações contra ele. É interessante que isto tenha acontecido e as pessoas reflitam um pouco sobre como a internet não pode ser o único instrumento de resistência. Vale para outros países.
Gravamos hoje, Lauro Jardim e eu, um podcast sobre a situação de Bolsonaro.
Enfatizei o momento em que vive com doenças típicas de stress: soluços e insônia.
No final da tarde, ele pareceu baixar o tom, depois de um encontro com Fux. Falou em termos religiosos, perdoar as ofensas etc. A verdade é que ninguém o defendeu no Supremo. Ele é quem partiu para cima de Luís Roberto Barroso, chamando-o de imbecil.
O governo federal recusou ajuda a um festival de jazz na Bahia, só porque era um festival antifascista e pela democracia O argumento do governo, usando Bach, era de que a arte deveria glorificar Deus.
Voltamos à arte sacra como a única forma de expressão possível? Na escultura só valem as estátuas de Aleijadinho?
É um caso grave de alucinação regressiva.
Fonte: Blog do Gabeira
Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.