25 de abril de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

Diário da crise CDLVIII

Os dias estão ficando mais corridos. Ontem gravei no estúdio da Globonews. Muitos pensaram que voltei em definitivo. Hoje gravei em casa, depois de amanhã caio na estrada de novo, e gravarei comentários de qualquer lugar que tenha uma conexão razoável.

O tempo ficará mais curto para diários. O próprio Instagram deve ser um pouco no início. Sinto-me como um jogador que ficou  mais de um ano fora dos jogos. Preciso de algum tempo para recuperar o ritmo.

A diretora da Precisa, aquela empresa que vendeu a Covaxin, não quis falar na CPI. Houve um Deus nos acuda, consultas ao Supremo.

Segundo a decisão do Ministro Fux, ela não precisava responder às perguntas que a comprometessem. Ela resolveu não responder a nada. Os senadores ficaram nervosos.

O problema é que tendo o poder de decidir sobre o que a compromete ou não, ela subjetivamente pode recusar qualquer pergunta.

É um pouco quando se diz: tudo o que você falar pode se voltar contra você. A pessoa então decide falar nada porque aí não corre risco.

A tevê estava tratando o tema com muita emoção. Sinto que baixei o tom, ao afirmar que nada de importante iria acontecer. Se tem o direito de se calar, tem o direito também de escolher o momento de falar.

Na minha opinião, embora torça pela CPI, acho que não ali não é uma confessionário. As pessoas comparecem com advogados, munidos de habeas corpus do Supremo. Não se arrancará nada de importante delas. É preciso mudar de tática, para avançar.

Posso estar enganado quanto à questão jurídica. Muitas pessoas afirmam que estou. O caso subiu para nova decisão de Fux. Não é tão simples pois ele pediu algum tempo para decidir.

Já o mesmo não acontece com as investigações propriamente ditas. Consultas a documentos, cruzamento de dados, avaliação de contas bancárias.

O governo cubano decidiu por um apagão na internet para esfriar as manifestações contra ele. É interessante que isto tenha acontecido e as pessoas reflitam um pouco sobre como a internet não pode ser o único instrumento de resistência. Vale para outros países.

Gravamos hoje, Lauro Jardim e eu, um podcast sobre a situação de Bolsonaro.

Enfatizei o momento em que vive com doenças típicas de stress: soluços e insônia.

No final da tarde, ele pareceu baixar o tom, depois de um encontro com Fux. Falou em termos religiosos, perdoar as ofensas etc. A verdade é que ninguém o defendeu no Supremo. Ele é quem partiu para cima de Luís Roberto Barroso, chamando-o de imbecil.

O governo federal recusou ajuda a um festival de jazz na Bahia, só porque era um festival antifascista e pela democracia O argumento do governo, usando Bach, era de que a arte deveria glorificar Deus.

Voltamos à arte sacra como a única forma de expressão possível? Na escultura só valem as estátuas de Aleijadinho?

É um caso grave de alucinação regressiva.

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

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