Imagino a luta pelo poder que se desancadeou no Haiti, depois do assassinato do presidente do país.
Os Estados Unidos seguem relutantes em mandar alguma ajuda. No The Guardian há uma referência à viúva do presidente, lamentando a luta interna no país.
O Brasil está calado. Já estivemos no Haiti durante muito tempo, tentando cumprir a missão da ONU de pacificar e retomar o jogo democrático.
No front interno, uma pesquisa do Data Folha informa que 63 por cento dos entrevistados consideram Bolsonaro incompetente para dirigir o país.
Mais cedo ou mais tarde, as pessoas iriam compreender. Bolsonaro com suas frases e atitudes contribui para que a consciência de que é inadequado para a função se amplie.
Tenho feito uma comparação de seu governo com o do ex-prefeito Marcelo Crivella, no Rio. Não há possibilidade de reeleição quando se é tão incapaz. No máximo, uma ida ao segundo turno eleitoral, com derrota garantida para o rival, não importa quem seja.
Essa é uma das razões pelas quais enfatizo a necessidade de discutir o pós bolsonarismo de uma forma mais profunda: quais são as condições para se evitar um retrocesso desse tamanho?
Ninguém tem a fórmula acabada.
Escrevo um artigo sobre o tema no Globo de amanhã. Mas enfatizo esse ângulo do debate porque estamos sempre falando de propostas nostálgicas: Bolsonaro quer voltar ao período da ditadura, o PT, até o momento, promete voltar aos governos Lula.
As condições estão alteradas para que se fala na repetição de um passado, ainda que recente. O movimento espontâneo de 2013 já nos empurrava para pensar um pouco mais na distância entre a política e o cidadão comum.
Enquanto ela existir, o perigo de aventuras autoritárias continua no ar.
Neste fim de semana, os jornais europeus destacam também o jogo decisivo entre Itália e Inglaterra, em Wembley.
Ontem foi decidida a Copa América, vitória da Argentina.
Continua um debate na internet, sobre torcer ou não pela seleção brasileira, que foi incapaz de rejeitar a Copa América no Brasil. Há opiniões exaltadas de ambos os lados.
O interessante é registrar que, independente ou não de torcida, principalmente em tempos de pandemia, no campo é que se decide o jogo. O Brasil apresentou um futebol medíocre, inclusive com dois ou três jogadores que não deveriam estar na seleção.
A continuar nesse tom, haverá uma grande expectativa para a Copa do Mundo do Qatar e seremos facilmente batidos pelas seleções europeias, com direito à tristeza e abalo na autoestima.
Se a seleção brasileira não consegue ter uma opinião política, precisa, pelo menos, recuperar um futebol perdido.
Lauro Jardim publicou hoje uma notícia fantástica: Cristiano Alberto Carvalho, o negociador de 400 milhões de doses de vacina, em nome da Davati, recebia auxílio emergencial de R$600. O cabo Dominguetti não conseguia pagar o aluguel.
Estavam todos a perigo e resolveram dar uma grande cartada. Por isso disse na tevê que isso parecia uma chanchada, inclusive com participação de reverendos e militares. A última a saber era a Astrazeneca, que não tinha de forma alguma 400 milhões de doses para vender ao Brasil.
O fato de terem sido recebidos pelo governo e inclusive uma autoridade do Ministério da Saúde, Roberto Dias, ter pedido para aumentarem o preço, -um dólar a mais por dose-, significa apenas que ainda não vivemos num país sério.
Fonte: Blog do Gabeira
Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.