4 de maio de 2024
Colunistas Fernando Gabeira

A fronteira com o Equador

Tinha vários temas na cabeça e, de um modo geral, isso é bom. No entanto não posso escapar do Equador. O que aconteceu lá é importante para o Brasil e também para os Estados Unidos e a Europa, mesmo que se finjam de mortos.

A produção e a distribuição de drogas são um dado essencial não apenas na economia, mas na própria vida social de nosso continente. O impacto delas na vida dos outros países é menor que aqui, onde muita gente morre ou é subjugada nas áreas ocupadas pelo tráfico. O caso brasileiro é especial. Por aqui passam rotas de drogas, e o país tornou-se o segundo maior consumidor mundial de cocaína.

Outro dia, escrevi um artigo comparando alguns pontos da violência no México com o Brasil. O Equador tornou-se uma espécie de novo México. Atos de terrorismo para demonstrar força não são inéditos no Brasil. Recentemente, a milícia da Zona Oeste do Rio incendiou um grande número de veículos na cidade. Seu líder hoje está preso. Mas o domínio territorial do crime permanece inalterado.

Já escrevi sobre como as milícias ameaçaram a produção de energia solar na Região Metropolitana do Rio. Queriam dinheiro. Na semana passada, uma obra pública em Piedade, Zona Norte do Rio, foi ameaçada por três homens: o preço para finalizá-la seria R$ 500 mil.

A infiltração nas instituições é uma realidade no Equador. Mas também é no Rio. O governo quer o controle das penitenciárias no Equador, mas será que o governo brasileiro realmente controla as nossas?

Há muito o que fazer para que saiamos dessa situação. Não temos fronteiras físicas com o Equador. Mas há fronteiras simbólicas marcadas por um estado de coisas que existe também na Colômbia, na Bolívia, no Peru, na Venezuela.

Hoje a Amazônia brasileira é um espaço por onde transita o crime transnacional. Estados do Nordeste foram profundamente alterados pela presença de rotas especiais e pelo deslocamento de fortes organizações do Sudeste.

Em algumas situações, é inegável a boa vontade do governo. As operações de emergência para proteger os ianomâmis, em Roraima, foram um esforço extraordinário em dinheiro e recursos humanos. Mas, um ano depois, os garimpeiros continuam donos da região.

Misturo temas para mostrar que eles nos revelam lições comuns. Garimpeiros ilegais, traficantes de drogas e milícias podem ser combatidos momentaneamente. Terminado o combate, há uma sensação de alívio transmitida pela imprensa. Com o passar do tempo, a ilusão se desfaz.

O ideal seria sentar para definir uma estratégia considerando a segurança pública um grande problema continental. Um dos objetivos dessa estratégia, no caso brasileiro, seria recuperar o terreno perdido e restabelecer a soberania nacional em toda a extensão de nosso território.

Sou pessimista quanto ao fim do tráfico de drogas. Mas a possibilidade de recuperar seu território não é irreal. Da mesma forma, milícias podem ser neutralizadas se houver constância no combate e na ocupação real do território delas.

A recuperação do controle das penitenciárias passa por um processo complexo, que implicará investimentos e melhoria das condições. A tese de que é melhor matar os presos de fome, tortura ou doenças só fortalece a coesão interna das grandes facções criminosas, e isso acaba caindo na cabeça dos brucutus da extrema direita.

Mas Nayib Bukele conseguiu solucionar o problema em El Salvador, dirão. É verdade que avançou, mas a um preço muito alto em controle do Congresso e direitos individuais. Não existe uma só maneira de combater o crime, e ela deve levar em conta a complexidade e o estágio democrático da sociedade.

Não é um tema que possa ser resolvido por uma bancada da bala, como a que existe no Congresso. Mas é impossível ignorá-la num debate aberto. E é isso que o Equador deveria nos inspirar.

Artigo publicado no jornal O Globo em 15/01/2023

Fonte: Blog do Gabeira

Fernando Gabeira

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

Jornalista e escritor. Escreve atualmente para O Globo e para o Estadão.

4 Comentários

  • Jomas Bastos 21 de janeiro de 2024

    JOSEP BORREL, Alto Representante de la UNIÓN EUROPEA, reconoce como DEMÓCRATA al Presidente de El Salvador, NAYIB BUKELE.
    Afirma que es fundamental escuchar las opiniones y deseos de los ciudadanos, y el presidente Bukele goza de un enorme apoyo social(+de 90%) por parte d ellos.

    Después de calcular correctamente las cifras de la encuesta electoral UCA para 4 de febrero de 2024, los porcentajes son:
    89.97% para NAYIB BUKELE 👏👏
    87,03% para NUEVAS IDEAS 👏👏
    FUERA… Fmln, Nuestro Tiempo, Vamos y tal vez… Arena.
    Y la Encuesta es de la UCA, una oposición a Bukele.
    Y sin contar los votos en el exterior.

  • Jomas Bastos 21 de janeiro de 2024

    Hay que conocer la “historia” política de Nayib Bukele (fue alcalde dos veces y una de ellas de la capital), conocer su Plan Cuscatlán para el país, conocer el partido político Nuevas Ideas (más de 2/3 en la Asamblea Legislativa) que formó, conocer el fuerte apoyo de más 90% de la población.
    También hay que conocer el plan de control territorial de Bukele que eliminó a las pandillas de El Salvador, saber que en este momento El Salvador tiene una tasa de homicidio de 2,4 por cien mil habitantes (la más baja de América Latina, más baja que Estados Unidos y equivalente a Canadá).
    En este momento es el país de América Latina en el que el Turismo más creció (cerca de 3,2 millones de turistas en 2023).
    Todos los estudiantes de El Salvador tienen computadoras o tabletas.
    La salud está evolucionando cada vez más, con muchos centros de salud y hospitales de calidad, tiene un centro de emergencia telefónico nacional con 3 helicópteros y 3 lanchas ambulancias además de 200 ambulancias automovilísticas. Se están construyendo dos grandes hospitales que estarán listos en 2024.
    Tiene una gran Biblioteca, la más grande de América Central y la más moderna de América Latina. También está en construcción un gran y tecnológicamente moderno estadio de fútbol para varias modalidades.
    En 2024 el gobierno de Bukele comenzará a montar un nuevo y moderno sistema de transporte público urbano en todo el país.
    Etc. Etc.

  • Jomas Bastos 21 de janeiro de 2024

    El gobierno de Nayib Bukele ya está a punto de iniciar la construcción del CECOC (Centro confinamiento de la corrupción). Y es cerca del CECOT.
    Por lo tanto, corruptos, su “mansión” que tanto aspiraban ya está a punto de ser construida.
    Bajo la actual FGR de El Salvador, muchas personas investigadas por corrupción u otros delitos ya han sido condenadas y arrestadas.
    Em los países de América Latina que siguen subdesarrollados y dominados por la corrupción, se observan votos estúpidos a favor de políticos corruptos e incompetentes.

  • Jomas Bastos 21 de janeiro de 2024

    Este sistema bipartidário incapaz e envolto em corrupção continua a arruinar esta Nação Brasileira.
    Quando surgirá no Brasil um Presidente competente e honesto, que queira trabalhar de verdade e com honra pela população brasileira e pela sua pátria?

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