6 de maio de 2024
Colunistas Fernando Fabbrini

A história romanceada de ‘O Café do Sargento’, novo livro de Fernando Fabbrini

É no mínimo curioso que o Brasil seja um dos maiores produtores e consumidores de café no mundo e que existam pouquíssimos registros sobre como essa iguaria chegou ao nosso país. Mas tudo leva a crer que haja um nome por trás da origem do café em terras brasileiras: o militar paraense Francisco de Melo Palheta (1670-1750). E é nessa figura quase mítica, mas de suma importância, que centra o mais novo livro do escritor, roteirista, cronista e colunista de O TEMPO, Fernando Fabbrini. “O Café do Sargento”, lançado de forma independente, traz a história romanceada de Palheta, figura responsável por trazer o café para o Brasil.

O escritor conta que a ideia do novo projeto – ambientado por volta de 1720, no Brasil Colônia – surgiu de uma indagação que o incomodava: afinal, como o café chegou ao Brasil? “A gente sempre fala de como o café foi descoberto na África, mas pouca gente sabe, e eu me incluía nesse grupo, de como o café chegou aqui. E isso me deixava intrigado”, comenta.

Fabbrini, que, durante mais de um ano, colheu informações na internet, em bibliotecas e até fora do país sobre o tema. Aliás, ele se mostrou espantado pelas pouquíssimas informações a respeito de todo esse episódio sobre Francisco Palheta. “Beira o surreal. Encontrei muito pouca coisa a respeito de tudo isso. Nem na Biblioteca Nacional. Tudo é muito vago. Cheguei a entrar em contato também com a Guiana, através de amigos da rede consular, já que foi de lá que o sargento trouxe o café para cá. Mas realmente não temos um vasto material a respeito dessa figura que foi tão importante e seus feitos. É uma pena não valorizarmos a nossa história, a nossa memória”, lamenta.

O pouco que se sabe é que no ano de 1727, Francisco de Melo Palheta recebeu uma tarefa importante do então governador do Maranhão e do Grão Pará, João da Maia da Gama. O sargento-mor Francisco de Melo Palheta se dirigiu para a Guiana Francesa, nosso país vizinho, com a missão de resolver uma disputa territorial entre portugueses e franceses e restabelecer a fronteira fixada pelo Tratado de Utrecht de 1713, ou seja, no rio Oiapoque, que estaria sendo violada pelos franceses. “O governador acabou encomendando outra missão ao Palheta e pediu para ele aproveitasse a viagem e trouxesse mudas ou grãos de café da Guiana para cá, já que nem Portugal, nem o Brasil produziam esse insumo”, relata Fernando Fabbrini.

O escritor destaca como era burocrática a vinda do café para o Brasil, o que faz do feito do sargento Palheta algo ainda mais importante e histórico. “O café saía de Caiena (capital da Guiana Francesa), atravessava o Atlântico, chegava a Lisboa, onde ficava armazenado num depósito junto à Praça do Comércio. Depois, voltava para cá depois de vários dias. Era praticamente uma volta ao mundo até vir parar nas mesas dos brasileiros”, relata.

Fabbrini acrescenta que, justamente, por não disponibilizar de muito acervo sobre esse acontecimento histórico, teve que ficcionalizar muitas coisas no seu romance. “O livro não pode ser chato, então a gente tem que amarrar uma cena à outra e usar esses artifícios. Muita coisa ali eu tive que criar. Como digo de brincadeira, é uma história baseada em fatos mais ou menos reais, porque a gente não sabe muita coisa”, frisa.

História de amor

E realmente o leitor embarca nessa viagem com Palheta que é cheia de aventuras, bailes, compromissos oficiais e até uma história de amor, que, para alguns historiadores, foi determinante para que o militar conseguisse os tão desejados grãos de café. O sargento teria se envolvido com a Madame D’Orvilliers, esposa do francês Claude D’Orvilliers, governador da Guiana, e seria ela justamente a responsável por lhe presentear com os grãos. “Na verdade, não se sabe exatamente se ela era realmente esposa, amante, concubina do D’Orvilliers, nem o seu nome verdadeiro. No meu livro, eu a chamo de Juliette. Mas o fato é que os dois tiveram, sim, um romance, e se fala nesta lenda de que ele teria obtido o café justamente com Madame D’Orvilliers”, comenta o escritor.

Apesar dos poucos registros sobre o sargento-mor, Fernando Fabbrini acredita que ele era um homem culto e articulado, do contrário, não seria o escolhido pelo governador do Grão Pará para desempenhar tão importante função. “Mesmo não sendo um oficial de uma alta patente, o João da Gama não iria mandar qualquer um para essa missão que envolvia disputa de territórios e também sobre a questão do café. O Palheta era um cara com o mínimo de traquejo e da mais alta confiança dele. Eu imagino também que era um sujeito que falava mais de uma língua, era letrado, vaidoso e sedutor”, opina.

Quadrinhos

Fernando Fabbrini ainda não fez nenhum lançamento presencial de “O Café do Sargento” – que tem orelha da escritora e presidente da Sempre Editora, Laura Medioli, prefácio do escritor Epiphânio Camillo e projeto gráfico de Dulce Albarez. A comercialização e a distribuição do livro têm sido feitas exclusivamente pela internet. “O bacana de lançar um livro é poder encontrar com os leitores, abraçar os amigos, bater um papo. Mas, por enquanto, com essa coisa da pandemia, isso está meio complicado ainda”, justifica. Fabbrini, que tem recebido encomendas do livro de vários Estados do país, tem a ideia de fazer uma versão para as crianças e transformar o romance em uma história em quadrinhos. “Acho que seria muito interessante ter esse projeto. Claro que a gente daria uma amenizada no lado sedutor do Palheta, mas seria até uma maneira mais divertida de conhecer a história dele. O objetivo é tentar conseguir um patrocinador, porque ilustradores eu conheço vários que fariam com louvor essa empreitada”, salienta.

Palheta Cafeteria

Há poucas referências e homenagens a Francisco de Melo Palheta no Brasil. No Rio de Janeiro, além de uma rua no bairro de São Cristóvão, que leva o seu nome, existe a Palheta Cafeteria, que funciona na Tijuca, na zona Norte carioca. No estabelecimento, que existe desde 1943, é servido o tradicional Café Palheta. O pacote da marca deixou de ser comercializado para o consumidor final e é vendido apenas nas xícaras para os clientes da cafeteria.

SERVIÇO

“O Café do Sargento”
Autor: Fernando Fabbrini
Páginas: 130
Preço: R$ 50
Vendas: O livro só é vendido pela internet. Para adquirir, envie e-mail para ocafedosargento@gmail.com

Fonte: O Tempo Por Ana Clara Brant

Fernando Fabbrini

Escritor e colunista de O TEMPO

Escritor e colunista de O TEMPO

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