3 de maio de 2024
Carlos Eduardo Leão Colunistas

Envelhecer é chic

Antes de tecer acomentários sobre a cara de bolacha do genial Stenio Garcia acho interessante um ligeiro preâmbulo (quase um segredo) de como nós, cirurgiões plásticos, balizamos nossas medidas para reposicionarmos os tecidos açoitados pelo tempo.

Nos idos de 1490, inspirado na obra “Da Architectura” do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio, o Vitrúvio para os íntimos, Leonardo da Vinci passou para o papel um desenho do que havia entendido sobre a teoria escrita pelo seu colega em relação às medidas e proporções da beleza caucasiana.

Nasceu, assim, o “Homem Vitruviano”, aquele mesmo dos braços e pernas abertas, olhando para o horizonte, inteiramente nu, que há mais de 500 anos representa o ideal clássico de beleza, de equilíbrio, harmonia das formas e, sobretudo, perfeição das proporções.

De onde vocês acham que nós, cirurgiões plásticos, nos inspiramos ao colocarmos os nosso famosos “pontos A” em qualquer cirurgia que realizamos? Entendam por “Ponto A” o início da proporção de tudo que desenhamos antes da sublime arte de incisarmos a pele.

Pronto! Entreguei a rapadura! Mas não faz mal. A Cirurgia Plástica é uma especialidade milenar comprometida com a função e a forma e “quem a procura não quer se destacar na multidão, quer apenas se juntar a ela” de peito aberto, liberto de traumas e com a autoestima nas alturas.

Se Stenio Garcia e como ele tantos outros “avatares” estão de bem com suas vidas, suas novas aparências, sentindo-se pessoas melhores nas suas relações interpessoais o resultado do trabalho realizado em seus semblantes está teoricamente justificado. Na vida o importante é ser feliz.

O que precisa ser dito, em alto e bom tom, até mesmo em respeito à sobrevivência da Cirurgia Plástica, é a falta de escrúpulo de alguns profissionais que estão transformando seres humanos em aberrações sob a alcunha de harmonização facial. Fica a dúvida se desconhecem a palavra “NÃO” ou estimulam essa absurdeza profissional.

Vocês têm reparado nas bocas? Nas maçãs do rosto? Nas faces sem nenhuma expressão por excesso de toxinas? Mulheres lindas, belos homens, mais maduros ou ainda jovens mudando suas feições para muito pior?

Como cirurgião plástico há mais de 40 anos, um “rato” de congressos e jornadas, portanto sobremaneira atualizado, confesso estar apavorado com esse “rumo”. Medicina é uma ciência dinâmica, portanto de verdades e conceitos transitórios dada à sua constante evolução.

O que não se pode é entender nem admitir como “evolução” essas porra-louquices com pretensões terapêuticas executadas, por profissionais, a maioria não médicos, nas caras e bocas de incautos escravos de redes sociais.

Preenchedores, fios, toxinas, peelings, lasers e outras terapias por aquecimento são grandes recursos para tratamento da face envelhecida quando em mãos bem formadas e responsáveis.

Envelhecer é lindo. As rugas são, em sua grande maioria, marcas de felicidade. Quantas histórias por trás delas! E quantos não chegam a tê-las! Viver é um privilégio e saber envelhecer uma dádiva. Amenizar rugas, reposicionar os tecidos para onde deveriam estar, sem excessos ou exageros é um direito salutar e pertinente principalmente para aqueles cujo espírito jovial não condiz com as agruras do tempo sobre o semblante.

Aos stênios da vida: vocês não estão bem! Mas, se estão realmente felizes, rendo-me à essa felicidade. Aos executores de tais aberrações: no Juízo Final suas penas poderão ser abrandadas se essa pretensa felicidade for mesmo comprovada. Nesse caso vocês conseguirão, no máximo, um purgatório sem regalias e sem direito a reencarnação.

Carlos Eduardo Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

Cirurgião Plástico em BH e Cronista do Blog do Leão

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