
Entre leggings de luxo e smokings com tênis, a nova elite redefine o que é elegância — e prova que o conforto pode ser a forma mais cara de poder.
Parece que a elite cansou do terno, do casual, do longo, do scarpin. Cansou da gravata, do sapato engraxado e do blazer com ombreira. Hoje, o poder veste conforto.
Mas não qualquer conforto — o conforto de luxo, aquele que custa o que antes custava um fim de semana em Paris.
Aparentemente, o novo símbolo de sucesso não é mais o Rolex, e sim o tênis branco de solado grosso.
É o moletom “disfarçado” de roupa de treino, a legging de quatro dígitos, o top de yoga que grita em silêncio e a inseparável (e cafoníssima) garrafinha d’água à tiracolo: “Eu sou dono do meu tempo”.
E digo mais: a roupa é de treino. Quem fala roupa de malhar é velho. Agora, quem fala roupa de ginástica – ah, este, meus amigos, já tá com o pé na cova.
Eis o novo dress code da elite: o conforto ostentação. Roupas tão discretas quanto excludentes, tão caras quanto minimalistas. São o uniforme invisível de quem pode trabalhar de qualquer lugar — inclusive daquele tapetinho de meditação.
O problema é que, nesse novo baile de máscaras, quem ainda se veste “direito” — terno, salto, gravata — parece deslocado. A moda virou um idioma que só os iniciados falam. E quem ainda acredita que aparência é respeito corre o risco de parecer antiquado.
Mas cá entre nós: andar de roupa de academia o dia inteiro não é exatamente o retrato da liberdade. Porque, convenhamos — se alguém cruza comigo de legging e top às três da tarde, minha primeira reação não é “Que mulher poderosa!”, mas sim “Ela precisa de um banho! Um descanso urgente”.
O discurso do conforto virou a desculpa perfeita para o desleixo. E enquanto alguns chamam de “minimalismo”, eu chamo de preguiça prime.
E os homens, claro, não ficaram de fora dessa tragédia estética. Agora desfilam de terno cuja calça parece uma bermuda alongada, deixando 1/3 inferior da canela de fora — e completam o visual com sapato sem meia ou tênis de plataforma.
Alguns chegam ao extremo de usar smoking com tênis branco. É a versão masculina do “estou elegante, mas pronto para correr se o evento ficar chato”. Uma mistura de gala com recreio — uma aberração que desafia até os olhos mais tolerantes.
Porque, no fundo, elegância nunca foi sobre o tecido. É sobre o comportamento. É o modo como se olha o garçom, como se cumprimenta o porteiro, como se entra e sai de uma sala sem precisar dizer nada. Elegância é o silêncio que impõe respeito — não o legging Balenciaga, Alo ou Y-3 que custam o salário do vendedor.
Leonardo da Vinci já dizia:
“A simplicidade é o último grau de sofisticação”.
E Audrey Hepburn, eterna em preto e branco, completava:
“A elegância é a única beleza que não desaparece”.
Como diziam as avós sábias do planeta — “Você pode até estar pobre, mas esteja limpo e alinhado”.
Elegância não é quem tem mais tempo livre — é quem sabe usar o tempo que tem.
Não é quem ostenta liberdade — é quem a exerce com respeito.
E, definitivamente, não é quem parece confortável — é quem faz os outros se sentirem confortáveis à sua volta.
No fundo, esse novo dress code da elite só confirma uma velha verdade: quanto mais o mundo corre atrás do parecer, mais raro fica o ser.
E entre uma calça de moletom e um terno bem cortado, eu fico com a atitude que cabe em qualquer roupa: a classe.
Porque o verdadeiro luxo não é o conforto do tecido — é o conforto da consciência já que “a moda passa, o estilo jamais”.

