26 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Raramente sugiro filmes aqui

Hoje, lendo um post do artista Luiz Paulo Rocha, me senti compelido a fazer um comentário (longo, aliás) sobre o excelente documentário “Diários de Andy Wahrol (AW)”, que acabara de assistir.

O documentário é baseado no livro homônimo, organizado e publicado, postumamente, pela sua amiga e colaboradora Pat Hackett e dirigido por Andrew Rossi.

Para mim, como artista, sempre fica uma lacuna nos filmes biográficos sobre artistas visuais. Cisma minha! Minha cisma tem origem na difícil missão de revelar os bastidores da criação visual, e penetrar na complexidade (alma do criador) desviando das narrativas reducionistas (Oh! lindo! Gênio e etc..) e suprimir postulados conservadores que insistem em moldar critérios estáticos para a beleza.

Disse eu 👇

“Estive na abertura da exposição das ‘drags ‘, tempo em que AW estava na fossa. Nesse período ele ainda era o mais competente empresário de si mesmo. Porém, estava combalido com as críticas que o discriminavam do rol de ‘artistas sérios’ e rotulavam seu trabalho, posteriores à prestigiada série crash (violência social e acidentes letais) como ”decorativo e superficial”, mesmo tendo sido ele uma figura de destaque no movimento PopArt.

Já havia lido algumas passagens do Diário e o documentário faz jus ao relato do próprio.

Uma das coisas que me encantou nesse filme foi enfatizar o registro das ambiguidades de um artista inquieto e irreverente, senhor de uma vasta e poderosa obra.

Levado pela Lynne, saudosa amiga e marchand americana, amiga de AW, estive na abertura daquela mostra. No jantar, falei da minha curiosidade sobre a persona AW, um ‘mito’ de artista consagrado que sofria abalos emocionais quase infantis em relação a projeção da sua obra e da sua persona no circuito da arte ‘séria’ (sic) norte-americana.

Para mim, não fazia sentido que a multifacetada ‘celebridade nova-iorquina’ fosse um mix de um influente e sofisticado personagem cosmopolita em que dentro habitava um menino provinciano, frágil e carente da Pensilvânia, que clamava por reconhecimento social e amor dos seus contemporâneos.

Eu o admirava, e admiro até hoje.

A dicotomia de um artista de produção controversa e de grande agressividade mercantil, consolidou uma obra que emana de uma alma dócil e sensível, que, ao contrário de algumas celebridades das artes dos dias de hoje, não se engajou em movimentos ‘salvacionistas do planeta’, era avesso a manifestos politicamente corretos e não foi ativista da causa gay, como opção identitária.

AW era tudo isso e muito mais. Mesmo sendo um dos expoentes da PopArt de grande visibilidade midiática, AW preservou durante toda vida a sua privacidade.

Desculpe pelo abuso do longo comentário em sua pagina.

Abraço”

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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