3 de dezembro de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

Decisões recentes e excessos de retórica do STF

Até o momento em que escrevo estas linhas não absorvi todos os efeitos das decisões recentes e dos excessos retóricos que essa semana colocou o STF no epicentro dos eventos brasileiros e se espalhou mundo afora.

Creio que poucos saibam em profundidade, assim como também pouco se sabe sobre a origem do vírus chinês que devasta o planeta, o que de fato está por trás das recentes decisões daquela corte.

Na lista de efeitos secundários da decisão do Fachin, se destacam por ordem de grandeza: a comoção da opinião pública nacional, a repercussão no universo jurídico internacional, nos escritórios de advocacia com vasta lista de pacientes de ‘colarinho branco’, a esfuziante alegria dos alpinistas da insegurança jurídica, a aflição do mercado financeiro, o júbilo de alguns sindicatos, inclusive os do crime organizado, a expectativa da cooperativa dos hackers quanto a institucionalização da profissão com aval do STF.

Alguns gabinetes do Congresso Nacional,Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais abriram champanhe Cristal estocadas nos freezers há cinco anos.

Torcidas organizadas nas penitenciárias de segurança máxima vibraram com entusiasmo. A alegria se estendeu,contagiando as cadeias de província e das delegacias dos bairros.

Realmente foi um show para todas as classes.

Segundo um observador especializado, em um trecho da retórica do ministro Gilmar Mendes, quando ele afirma que a Lava Jato é o “maior escândalo judicial da nossa história” as celas que ainda abrigam alguns condenados do ‘colarinho branco’ aplaudiram loucamente.Se sentiram contemplados.

Todavia, nas celas das penitenciárias de segurança máxima, que ainda abrigam alguns chefes de quadrilhas, assaltantes de banco, traficantes e toda malta de sanguinários assassinos, a declaração do ministro gerou discórdia.

Houve um longo e estridente debate entre as lideranças do crime. Alguns achavam que a fala do ministro poderia ter sido mais enfática.

Poderosos chefes de facções criminosas desejavam ouvir do ministro o que ele vem dizendo à imprensa há muito tempo. Muitos deles guardam áudios e recortes da imprensa sobre declarações do ministro em relação aos promotores e procuradores da Lava Jato.

Uns lembraram em voz alta as falas públicas do ministro onde ele afirmou sem pestanejar que a Lava Jato é uma reunião de “gangsters”, “gente muito baixa, desqualificada”, “cretinos”, “gentalha”, “patifaria”, “organização criminosa” e “crápulas”, além de afirmar que os membros do MP “usavam a prisão provisória como instrumento de tortura”.

Outros condenados chamavam os colegas à razão.Ponderaram.

Acham eles que o ministro deveria ser mais comedido e discreto. Se mostraram preocupados com a fala do ministro. Essa vertente mais moderada acredita que a ênfase do ministro contra procuradores e promotores leve à criminalização dessas categorias especializadas, muito bem preparadas e eficazes.

Eles pedem aos colegas que sejam mais prudentes e pensem nas consequências para suas carreiras e para a grande família do crime organizado.

Alertam os companheiros sobre os riscos da retórica explosiva do Gilmar Mendes, levar essa gente muito bem preparada a lhes fazer concorrência nas ruas e na crescente e próspera indústria do crime organizado.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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