18 de abril de 2024
Adriano de Aquino

Ficção ou fato?


Veículos da grande imprensa parecem estressados com uma forma de concorrência que desconheciam e não estavam preparados para enfrentar.
Enquanto não aceitam a realidade de um mundo em rede em tempo real – em que o leitor deixou de ser o consumidor passivo da notícia e se tornou produtor de conteúdo, os editores das empresas de jornalismo arriscam perder lotes de credibilidade, a cada manipulação fracassada de uma notícia.
Nada há de novo na velha prática da imprensa em manipular os fatos ou ‘ajustá-los’ à política editorial de uma poderosa empresa de comunicação.
As famosas historias do tempo das diligências, quer dizer: do tempo e, que os donos de grandes jornais ‘elegiam e demitiam’ presidentes e criavam mitos da comunicação social, para logo adiante os crucificar, narradas nas velhas fábulas populares e em obras de arte geniais, como Cidadão Kane, com o advento da internet, perderam encanto, romantismo e uma parte significativa do poder de outrora.
Manipulação da notícia é tão velha quanto as antigas prensas à manivela e as letras fundidas em chumbo.
‘Fake News’ nada mais é que atualização de uma velha prática jornalística, ajustada e estendida ao extremo pelos meios digitais.
A cada manipulação grosseira dos fatos, desvendada rapidamente, a grande imprensa revela muita dificuldade em competir com os novos meios de comunicação digital.
Grosseiras manipulações, uma sobre a outra, chegou ao ponto de fazer surgir um novo significado para a gíria ‘spoiler’.
Quando surgiu o termo ‘spoiler’ se referia a um estraga prazer. Um ‘mala’ que se sentia enfronhado e bacana, antecipando para o público informações sobre alguma parte decisiva na trama de uma obra de ficção em um livro ou filme, sem que a outra pessoa tivesse lido/ visto antes.
Essa palavra tem origem no verbo inglês spoil / estragar.
Ao se empenhar na velha prática de manipular a notícia, alguns veículos da grande imprensa se esquecem ou fingem não dar importância ao fato de que a interatividade colossal das redes digitais reage rápida e poderosamente à suspeita de Info manipulada.
Esse descompasso, entre os velhos modos da imprensa e os novos tempos da comunicação em rede, coloca em risco a credibilidade dos veículos de comunicação e leva o leitor a considerar a hipótese de ‘self spoil / auto estrago’ do serviço concedido para as empresas do entretenimento e notícias, tudo junto e misturado.
Parece que perderam a noção entre o que é ficção e o que é fato.
De fato, a ‘verdade’ midiática sempre foi um detalhe a ser interpretado.
Porém, com a veloz viralização dos meios digitais, insistir no velho modo de enfiar ambiguidade intencional no relato dos fatos reais tem a maior pinta de decadência.
Uma trapaça de alto risco para o jogador, hoje facilmente apanhada pelo leitor, virou o ‘game’ preferencial nas redes sociais.

Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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