13 de outubro de 2024
Colunistas Erika Bento

O maior computador do mundo

Imagine o cérebro como o mais eficiente computador do mundo. Ele comanda a produção de substâncias químicas que vão controlar o seu humor e o funcionamento do seu corpo. Para funcionar de maneira eficiente, ele não pode estar atento a absolutamente tudo o que acontece à sua volta 24 horas por dia. Por isso, existem funções automáticas que você (o seu cérebro) não precisa se concentrar para que aconteça, como respirar, piscar, mastigar, tossir, etc. São reações gravadas no nosso sistema operacional desde o primeiro momento em que as executamos. Com os nossos sentimentos não é diferente.
Ao longo da nossa infância, o cérebro passa a armazenar situações e associá-las com sentimentos e, após algumas repetições, o cérebro entende que aquilo é um padrão e o grava no inconsciente como uma reação automática assim ele não terá que perder energia acionando esta função. Aliás, esta é a definição de eficiência. Executar uma tarefa no menor tempo e com o menor gasto de recursos.
Já na vida adulta, os cientistas estimam que 95% do nosso funcionamento esteja associado ao subconsciente, às reações automáticas, deixando apenas 5% do cérebro encarregado de executar funções novas, como aprender um novo idioma ou um novo esporte ou qualquer nova tarefa. É como se na maioria do tempo estivéssemos em piloto automático. E estamos. Por isso é tão difícil criar um padrão novo na vida adulta, mudar crenças, valores, atitudes e resultados, mas não impossível.
Imagine duas ruas paralelas e entre elas um gramado perfeito. Neste gramado, existe um caminho já traçado por onde os pedestres devem passar. Este trajeto é coberto por uma fina camada de terra e em formado de zig-zag. Ninguém nunca se questionou o porquê das curvas, todos apenas seguem o padrão, já que o caminho os leva ao outro lado, o que é o que importa. Um dia, alguém para, olha com atenção, reflete e percebe que a trilha como é não faz sentido então, decide atravessar o gramado em linha reta, porque ele acredita ser mais rápido. Nada aconteceria com o gramado caso fosse apenas uma ou duas pessoas fazendo isso por dia, porém o que aconteceria se todas as pessoas começassem a caminhar por este novo trajeto? Em alguns dias, uma nova trilha se formaria e, com o tempo, a antiga trilha desapareceria.
Isso é exatamente o que acontece com o nosso cérebro. Ele adora e vive de repetições pois é isso que o torna eficiente e a sua primordial função é proteger-nos contra mudanças que nos tornariam ineficientes. Portanto, para criar um padrão, é preciso repeti-lo várias e várias vezes. O psicólogo Jeremy Dean diz, em seu livro “Porque fazemos o que fazemos” que uma real transformação pode levar entre 20 dias (para atividades simples) e 84 dias (para as mais complexas, relacionadas a hábitos mas primordiais como alimentação e exercícios). A primeira mudança é entender que o cérebro é uma máquina criada para trabalhar para nós, não por nós. O cérebro é programado por você, não o contrário.
Reprogramar o seu cérebro para que ele execute a função que você deseja para que você obtenha o resultado que você deseja, só depende de você, mas antes de mais nada, você precisa realmente começar a conhecer a si mesmo para identificar quais são os seus padrões automáticos e o que você quer mudar. E isso é tão básico que vem sendo dito desde pelo menos o século II a.C. (A Arte da Guerra), sendo repetido várias vezes, inclusive por Sócrates, no século IV a.C. Já no século XX, quando Oprah Winfrey disse “Não podemos nos tornar aquilo que precisamos ser enquanto permanecemos o que somos”, nada mais foi do que uma reciclagem do que Einstein já dizia “Não conseguimos resolver um problema com base no mesmo raciocínio usado para cria-los”. Pois bem. Conhecer a si mesmo é o primeiro passo para uma transformação profunda. Você ficará abismado com as suas descobertas, se estiver disposto a ser honesto consigo mesmo.
Aceitar-se a si mesmo é olhar-se com amor, respeito e carinho, entender a criança dentro de você, perdoar-se e recomeçar sem pendências. Normalmente, passamos muito tempo nos criticando por inúmeros motivos: não consigo fazer dieta, não consigo parar de fumar, permito que os outros me maltratem, deveria ter dito isso ou aquilo, não consigo parar de roer as unhas, não controlo meu ciúmes, sou muito insegura(o), sou um fracasso, não sei guardar dinheiro, sou burra(o), sou fraca(o), etc. Somos extremamente criativos em autocrítica, mas não em reconhecer os nossos valores. Por isso é necessário olhar para si mesmo sem julgamento.
O melhor exercício para isso é olhar-se como se estivesse olhando para a sua melhor amiga ou amigo. Como você trataria esta pessoa que você ama tanto? Normalmente, aprontamos as qualidades que ela tem. Não a julgamos, mas incentivamos com sinceridade. Reconheça que ninguém é perfeito e o outro também não tem que ser. Nem você.  Ajude a pessoa dentro de você a identificar o que a faz infeliz consigo mesma e o que ela quer mudar. E, mesmo assim, você vai ver que muitas coisas que você queria mudar no início, na verdade nem são tão importantes assim quando você se aceita e se ama do jeito que você é.
Não tente encontrar justificativas para os seus atos, tenham sido eles certos ou errados. Fazendo isso, você concentrará a atenção nos outros, não em você. Simplesmente aceite as suas ações sem necessidade de justificativas, até porque elas pertencem ao passado.
Falaremos mais sobre passado e futuro nos próximos posts.
Admin

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