30 de abril de 2024
Erika Bento

Eu sei quem você é e onde você está!

Patrícia vai ao cinema esta noite com os amigos. Mora no Brooklin, São Paulo, e estuda em colégio particular. Tem 16 anos, mora com os pais e uma gata chamada Kitty. Não tem irmãos, viaja todos os finais de semana para a casa dos avós, no interior paulista, e adora cavalos. Leu todos os romances da saga Crepúsculo e gosta de música internacional. Esta noite, Patrícia vai conhecer Eduardo no cinema e vai se impressionar com tantas afinidades entre eles. O que ela não sabe é que Eduardo levou apenas um dia para obter estas informações sobre ela, graças ao Orkut, Twitter e Facebook.
O que parece um roteiro de filme barato e de final previsível é mais real do que se pode imaginar. A tecnologia e as redes sociais, usadas sem a menor preocupação, estão se tornando aliadas poderosas de mentes perigosas. Ferramentas como Google Latitude e Foursquare são ainda piores. Indicam, em tempo real, a localização exata da pessoa, esteja ela em qualquer ponto do planeta!
E o pior, é que as pessoas se sujeitam a isso! Se expõem sem pensar… ou será que pensam? Ou será que gostam desta exposição? Privacidade, pra quê? O que houve com os mistérios, os segredos, os desejos íntimos, o interior preservado, nuances de nosso ser que mostramos apenas aos poucos – pouquíssimos – amigos?
Ligados na pouca importância que muitos de nós dá à privacidade, empresas como Google usaram e abusaram de informações pessoais. A sua mais nova ferramenta, Google Buzz, foi alvo de ação judicial depois de cruzar os emails pessoais e as listas de contato às redes sociais. Na prática, qualquer pessoa teria acesso à sua lista de contatos, às pessoas com as quais você mais troca emails e mensagens instantâneas.
Se a invasão de privacidade não preocupa por si só, a segurança deveria preocupar. Ferramentas que mostram onde você está podem avisar os espertos que a sua casa está sozinha, por exemplo. Este tem sido o alerta de um site bem humorado chamado “Please Rob Me” (Por favor, me roube). Usando apenas mensagens publicadas no Twitter e Facebook, o site mostra como as pessoas expõem a si e as suas casas. Paranoia? Pode ser, mas o fato é que um grupo de jovens realizou um verdadeiro arrastão em casas de celebridades após saberem (pela internet) que eles estariam viajando e suas casas estariam abandonadas num determinado período.
Eu mesma, reconheço, exponho partes de minha vida pessoal em vários textos, o que me faz sempre pensar quais são os limites entre publicidade, intimidade e família. Falar sobre si mesmo, expor sua vida e sua intimidade, vale a mensagem que se quer passar? Enquanto houver algo a ser transmitido, creio que vale sempre! Mas a exposição por nada é algo a ser evitado, hoje ainda mais! Não só pela segurança, mas pela preservação de si mesmo. As relações humanas precisam de mistérios, de segredos a serem descobertos, de tesouros escondidos… ou não?

Artigo publicado em 26/02/2010

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