2 de dezembro de 2024
Colunistas Erika Bento

Escrita criativa ou preguiçosa?

Os que me acompanham há algum tempo sabem que realizei um sonho de escrever um livro alguns anos atrás.
A experiência foi tão gratificante que este livro se tornou parte de uma trilogia. O segundo volume foi publicado um ano depois, mas o terceiro está engavetado há sete anos. E não é por falta de incentivo. Até hoje, recebo mensagens de leitores me cobrando o último livro da série.
Talvez seja o tal bloqueio de escritor, falta de confiança ou preguiça mesmo. A questão é que esta obra inacabada tornou-se um fantasma em minha vida. Eu sinto a sua presença todos os dias me assombrando, exigindo que eu lhe dê a vida que prometi, que o liberte do ventre escuro e confuso que é a minha mente, e isso é muito doloroso.
Acreditei que talvez fosse por falta de criatividade então, fiz o que todos hoje em dia fazem. Consultei o doutor Google. Deparei-me com milhares de artigos sobre o tema e, para a minha tristeza encontrei vários que prometem ajudar a desenvolver a escritora criativa em poucos passos.
 Em geral, fala-se muito em como cativar o leitor utilizando de artifícios como usar linguagem fácil, inclusive, evitando o uso de palavras com mais de quatro sílabas e parágrafos com mais de duas, três linhas! A razão para tais artifícios está ligada ao estudo apresentado pela Microsoft, em 2015, que diz que tecnologia reduziu drasticamente o período máximo de concentração do ser humano.  As pessoas, atualmente, perdem a atenção após oito segundos, o que é um segundo a menos do que um peixe dourado!
Todos nós estamos cansados de saber o quanto o excesso de informação na internet está diretamente relacionado com o baixo nível de conteúdo, e dá para entender o porquê. Com uma janela tão curta de atenção, os conteúdos têm que ser de fácil assimilação. Por isso, quem escreve blogs não necessariamente consegue escrever um livro cuja máxima é exatamente conduzir o leitor a uma leitura profunda e duradoura.
Dificilmente, o leitor de blog sentirá aquela nostalgia ao terminar um post, enquanto um bom livro nos faz correr para procurar mais obras daquele autor ou simplesmente ficar no silêncio, degustando palavra por palavra dos capítulos finais prolongando ao máximo a existência de personagens que não encontraremos mais.
Se hoje sabemos que após oito segundos de leitura na internet a pessoa tende a pular para outro conteúdo, o fato de você ainda estar lendo estas palavras é uma vitória não só minha quanto sua. Parabéns, você está  bem acima da maioria dos leitores digitais e o seu cérebro agradece!
Voltando ao tema de abertura deste post, ainda não sei porque não consigo terminar de escrever o terceiro livro da série.
Talvez seja medo de decepcionar o leitor que tanto me acolheu por isso, busco elevar o meu padrão de escrita, fazer o leitor mergulhar nas minhas palavras e sentir cada emoção por inteiro enquanto o mundo ao seu redor se transforma nos cenários descritos naquelas páginas.
Este é o respeito que tenho pelos leitores. Se não for para atingir este nível, prefiro não fazê-los perder tempo. Sejam oito segundos ou mais.
Admin

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