Estou chegando ao fim do livro Guerra pela Eternidade, de Benjamin Teitelbaum. Acabo de ler o capitulo dedicado à Olavo de Carvalho, intitulado O Brasil Profundo.
Senti ali algumas das fragilidades do livro. A tentativa de enquadrar os pensadores da extrema direita num figurino do tradicionalismo nem sempre funciona. Sobram pernas, braços, embora exista realmente alguma proximidade entre as ideias de Steve Bannon, Olavo de Carvalho e os tradicionalistas.
Olavo não reconhece tanto assim a influência dos teóricos do tradicionalismo. Julius Evola, ele considera maluco e sobre René Guénon diz: Guénon está certo em tudo que nega e errado em tudo que afirma.
Olavo de Carvalho não reconhece também a ideia de um tempo circular, etapas que se desdobram e se repetem com regularidade. Ele acha que algumas coisas desaparecem, outras nascem, enfim tem um visão mais da história com um processo mais contraditório.
Outro problema no trecho sobre o Brasil é que o autor não checa as afirmações absurdas de Olavo de Carvalho. Ele diz que os militares brasileiros detestam os Estados Unidos e simpatizam com os chineses.
Nada mais falso. Há uma tradição de convívio entre ambas forcas armadas, treinamentos conjuntos, intercâmbio de quadros. Conheço alguns militares brasileiros que fazem cursos de aperfeiçoamento nos Estados Unidos. Não é a mesma coisa com a China.
Olavo de Carvalho diz que as pessoas vão às universidades no Brasil para fazer sexo. Também não é verdade que seja essa sua motivação.
Se quisesse fazer uma critica espiritualista, poderia dizer simplesmente que as pessoas vão à faculdade para conquistar melhores salários e ampliar sua capacidade de consumo. Seria uma visão mais real.
Infelizmente não tenho tempo para avaliar todas as declarações de Olavo de Carvalho. Vi uma entrevista sua em que afirma que os italianos não morreram de Covid-19 como foi anunciado.
Enfim, a extrema direita tem suas crenças, uma delas é de que o momento é de decadência provocado pelo materialismo. Ela vê a salvação na fé dos americanos das áreas rurais ou mesmo na fé dos brasileiros mais pobres. É um pouco a transposição das grandes expectativas da esquerda no proletariado, um sujeito histórico encarregado da salvação.
O problema hoje é a Petrobras. A empresa perdeu R$100 bilhões em valor de mercado, em apenas dois dias. Caíram também as ações do Banco do Brasil e da Eletrobras. O dólar subiu.
Bolsonaro deu um prejuízo gigantesco ao país e não está nem ai para isso.
Ele decidiu começar sua campanha de reeleição e parece disposto a tudo. Falei hoje na tevê: se fosse presidente e desse um prejuízo de R$100 bilhões em dois dias, creio que não conseguiria dormir.
Bolsonaro não se perturba com a morte de quase 250 mil brasileiros. Por que se perturbaria com nossa ruína?
Todas essas manobras de conter artificialmente preço do petróleo e da eletricidade já foram realizadas por Dilma. A diferença é que foi eleita com esse discurso. Bolsonaro é um estelionatário eleitoral.
Vamos ver até onde vai. É uma ilusão pensar que seus adversários não vão utilizar intensamente seus erros. Por enquanto, está praticamente sozinho na campanha mas com o tempo terá que responder também por essa.
Já estamos isolados por causa da nossa situação sanitária. Os capitais que poderiam vir para o Brasil recuam por causa da política ambiental destrutiva. Agora, com essa guinada venezuelana no petróleo, as coisas devem ficar ainda piores para nós.
Os generais não se importam com isolamento. Parece que é a sua atmosfera natural. Eles comprometeram sua imagem por alguns anos, no regime militar. Não percebem que agora o desgaste será cumulativo, as pessoas vão concluir que são, na verdade, pretensos donos do Brasil.
Desisto de argumentar com os militares. Prefiro apenas observar todo esse processo. Infelizmente, não se pode contar com eles, o verniz democrático descascou em apenas dois anos de governo Bolsonaro.
Fonte: Blog do Gabeira