30 de abril de 2024
Adriano de Aquino Colunistas

“No que você está pensando”, Facebook?

Estou pensando isso:
– Continuo proibido pelo cirurgião que realizou a delicada e exitosa cirurgia no meu ombro e obediente às recomendações da competente fisioterapeuta que trata dele como um bebê aprendendo a andar. Sigo impedido de retornar a atividade no ateliê.
Essa restrição de ordem pessoal, somada ao confinamento imposto pela nova ordem mundial, me tornou um paciente inquieto e rebelde.
Às vezes penso que seria bom capinar um lote, mas isso também está proibido para mim.
Penso também que, caso minha neurose fosse mais egocêntrica, os limites impostos à minha condição pessoal seriam compensados pelo sentimento monocrático de saber que milhões de pessoas mundo afora também estão impedidas de exercer suas atividades laborais de sustento e prazer.
Tendo em vista os alertas de que o mundo todo está doente e quem ainda não está em breve ficará, divagações esquisitas passam a ser normais.
Elas derivam de uma espécie de solidariedade inversa que permite compartilhar sentimentos entre um paciente brasileiro e um paciente inglês, também confinado e revoltado com sua situação pessoal.
Leituras tomam boa parte do meu dia. Navegar nas redes sociais se tornou um tipo de bálsamo que acalma o indivíduo confinado, simulando virtualmente vestígios de uma sociedade que ele conhecia antes da pandemia.
Assistir velhos e novos filmes, na silenciosa companhia do Dewar’s, um escocês educado, quer dizer; destilado por 18 anos que não fala uma palavra de português, se tornou um ritual noturno que vara madrugadas.
Digitar no teclado passou a ser uma espécie de terapia mental.
Escrever, ler, reler e me divertir com emendas a mim mesmo, extraindo divagações impublicáveis digitadas ontem e compartilhadas hoje no meu alter ego cibernético hospedado no sanatório Facebook, coisas provavelmente inúteis para quem se lixa em ler longas divagações, porém, possivelmente interessantes para um navegante confinado e curioso que passe por aqui, é uma atividade muito prazerosa.
Assim são meus dias, noites e madrugadas também.
Adriano de Aquino

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

Artista visual. Participou da exposição Opinião 65 MAM/RJ. Propostas 66 São Paulo, sala especial "Em Busca da Essência" Bienal de São Paulo e diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Foi diretor dos Museus da FUNARJ, Secretário de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, diretor do Instituto Nacional de Artes Plásticas /FUNARTE e outras atividades de gestão pública em política cultural.

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