Joe Biden, Kamala Harris. Começa uma nova fase na história dos Estados Unidos, com repercussão positiva em todo o mundo.
Num artigo que escrevi para segunda-feira, afirmei que é uma época de construção de pontes. Ao ler a repercussão mundial da vitória de Biden, percebi que o prefeito de Londres, Sadiq Khan, tem uma posição semelhante: é hora de construir pontes e não muros, afirmou ao celebrar o feito de Biden.
Aqui no Brasil, Bolsonaro ainda não se manifestou. É normal, no sentido de que, em termos diplomáticos, o reconhecimento de uma vitória depende da proximidade com o eleito. Quanto mais próximo, mais rapidamente se reconhece.
Foi o que fizeram os lideres europeus, inclusive o primeiro ministro britânico, Boris Johnson e Angela Merkel, ressaltando as expectativas de parceria com os Estados Unidos.
Há muitas lições para se tirar no Brasil. Joe Biden tem um perfil conciliador. É a pessoa mais indicada para curar as feridas da sociedade americana, muito atingida pela polarização.
Possivelmente no Brasil, o mesmo cenário pode se abrir pois é o único que traz a esperança de volta de um debate político civilizado, de superação dos conflitos, da recuperação do sentimento nacional, isto é da sensação de que, apesar de divergências políticas, pertencemos a um mesmo país.
Espero que a eleição de Biden nos ajude, de alguma forma, a deter o processo de destruição ambiental no Brasil. Este foi um ano de destruição de 30 por cento do Pantanal e recorde de queimadas e desmatamento na Amazônia.
Sinceramente espero isto com base no seu espírito conciliador, sua capacidade de negociação. Sou muito cético quanto a sanções econômicas. De um modo geral, acabam favorecendo os governos e punindo as populações.
Acredito que Bolsonaro vai se comportar pragmaticamente e reconhecer a vitória de Biden, felicitando-o em nome do Brasil. Certamente fará isso muito tarde.
O problema é sua teimosia em prosseguir numa política ambiental devastadora, sua incapacidade de refletir sobre um mundo que muda rapidamente ao nosso redor: primeiro foi a Argentina, depois a Bolívia, finalmente a vitória popular no Chile na conquista de uma nova Constituição.
Se olharmos o mundo em termos de afinidades políticas, Bolsonaro está próximo apenas da Hungria e da Polônia, muito distantes e pouco capazes de oferecer alternativas de rica cooperação.
Mesmo Israel que ele tanto cultiva não se pode ser resumido ao governo do comunidade judia nos Estados Unidos votou majoritariamente em Biden.
Tempo de reflexão e ajuste de rumos. A base parlamentar de Bolsonaro é fisiológica demais para se interessar pelo mundo. Os ministros, de um modo geral, muito temerosos de contrariar o chefe.
Não importa o que aconteça, Bolsonaro ficou mais fraco e pode ser batido em 22. O grande problema é evitar que sua teimosia e espírito destrutivo minem mais ainda as perspectivas de reconstrução após sua derrota eleitoral.
Fonte: Blog do Gabeira