Hoje, saindo do restaurante, vi um enorme cartaz onde se lia que um litro de óleo de cozinha (usado, claro), jogado na pia, contamina um milhão de litros de água! Óleo limpo também, mais claro ainda.
Mesmo com um cafezinho depois, a imagem continuou na cabeça. Para mim, neste ritmo, um oceano vai para o saco todo santo dia!
Estas frases são perigosas e claramente exageradas, tipo: “100 campos de futebol desaparecem por dia com o desmatamento da Amazônia”. Fosse assim, há muito, a Amazônia estaria mais depilada que a… da … Deixa pra lá!
Fiquei tão “neurado” que procurei e achei um texto sobre o assunto, no site Biotech Reciclagem: “Sabe aquela coxinha frita deliciosa? Ela não faz só mal à saúde – por incrível que pareça – o óleo usado para fritá-la também faz um mal enorme para o ambiente! ”.
Claro. O óleo usado acaba no ralo da pia ou no cesto de lixo. Como se a pia e o lixo terminassem em Plutão.
Sempre adorei, mas sempre fui péssimo em química. Mas gosto das coisas que fazem sentido. Por exemplo, na escola, aprendi com um professor, como o sabão e o detergente conseguem limpar e lavar coisas gordurosas. Porque os componentes químicos do sabão e do detergente “quebram” as moléculas da gordura. Isso fez e faz sentido, por isso nunca esqueci.
Por isso também imaginei, antes de surgir, a lipoaspiração e agora, por que não? Um líquido que derreta a gordura da barriga, da bunda, etc.
Mas, deixemos meu prêmio Nobel para depois. Voltemos ao temido e temível óleo de cozinha.
Óleos e gorduras são, por definição, substâncias que não se misturam com a água (insolúveis).
A maior prova disso é recente, este oceano de petróleo poluindo as praias do Brasil.
O hilário e irônico é que o óleo de cozinha é vegetal, pode vir do buriti, da mamona, soja, canola, girassol, milho, etc. Então, é a natureza contra a natureza.
Como em Brumadinho, ou quase! Os rejeitos que poluíram, os metais, não vieram de outro planeta. Até mesmo a radiação atômica, a Rosa de Hiroshima, vem da química, extraída, de alguma forma e indiretamente, da natureza. Muito doido isso!
Ou seja, o óleo de cozinha usado, o vilão, quando jogado diretamente no ralo da pia ou no lixo, “polui córregos, riachos, rios e o solo, além de danificar o encanamento em casa. O óleo também interfere na passagem de luz na água, retarda o crescimento vegetal e interfere no fluxo de água, além de impedir a transferência do oxigênio para a água o que impede a vida nestes sistemas”.
Nos lixões ou acumulado nas margens, impermeabiliza o solo, impede que a água se infiltre, piorando o problema das enchentes.
Agora é que o bicho pega e tira a calcinha, a moral e até o moral: “Um litro de óleo de cozinha pode poluir certa de 10.000 litros de água, mas algumas estimativas dizem que um litro de óleo pode poluir até um milhão de litros de água (esta quantidade de água é aproximadamente o que uma pessoa consome em 14 anos) ”.
Mesmo sendo péssimo em química e matemática, sei que é gigantesca e dantesca a diferença entre 10 mil litros e um milhão de litros. Porra! Resolvam!
Ah! Ao lado do cartaz onde li esta maldição, havia um latão para se despejar óleo de cozinha usado. Vocês já viram alguém indo para o trabalho, levando um litro de óleo que seja, numa sacola de outro vilão o plástico, ou na bolsa, para jogar num latão?
PS: Odeio óleo, coisas oleosas, gordurosas, frituras; qualquer gordura, a começar pela minha.
Jornalista, escritor, escreveu no Jornal O Tempo e já publicou dois livros.